Além da Queda Coice
Certo dia eu estava fazendo a minha caminhada matinal a beira mar, quando por acaso encontro um conhecido de Campina Grande, nos detivemos por uns instantes , tendo ele me perguntado porque eu não escrevia alguma coisa sobre Zé Bezerra, engenheiro que trabalhou por longo tempo na nossa empresa, achei boa a idéia e resolvi prestar uma homenagem a este grande amigo, falecido prematuro e tragicamente num acidente automobilístico na BR-230 PB, juntamente com o seu filho Alexandre, no ano de 83.
Estávamos construindo a ponte sobre o rio Espinharas na BR-230, na entrada da cidade de Patos – PB. Quase que diariamente nos dirigíamos aquela cidade; muitas vezes Zé Bezerra me acompanhava, já que ele era o um dos engenheiros da nossa empresa. Certa vez marcamos uma viagem para o dia seguinte, eu deveria apanha-lo as 5h00 da manhã, não sei explicar o motivo, o certo é que perdi o horário, chegando a sua residência quando o relógio da igreja da Prata que fica quase em frente a sua casa, marcava 6h15. - Zé já se encontrava a minha espera acompanhado por três operários que viajariam conosco até Patos.
Zé Bezerra era um “galegão” de 1,80 de altura, forte como um touro, naquela época ele deveria ter uns trinta e poucos anos, brincalhão, boa gente, gostava de contar piadas e tinha uma mania, adorava falar errado a propósito. Mesmo com todas estas virtudes Zé era uma pessoa supersticiosa e levava maito a sério os seus sonhos, naquela madrugada tivera um deles, quando parei a camionete a beira da calçada ele se aproximou e falou:
“ “Meu fio” fasta pra lá, eu vou levar o carro ! Ontem a noite tive um
daqueles sonhos, estou um tanto cismado !
- Não seja por isto ! Falei largando a direção e mudando de lugar
Zé assume a direção da pick-up, os operários sobem na carroçaria, dois deles sentam de um lado e o terceiro do lado oposto. Lá vamos nós em direção à Patos. - Zé realmente devia estar apavorado com o seu sonho, a camionete não passava dos 60 kms. - De vez em quando eu reclamava da baixa velocidade, alegando que daquela forma passaríamos o dia para chegarmos a Patos. Às 9h30 iniciamos a descida da serra de Santa Lúzia, em direção a cidade do mesmo nome. Quando íamos na metade da descida da serra , dentro de uma das inúmeras curvas, um senhor bastante velho a beira da estrada estende o braço pedindo carona. - Zé Bezerra diminui a marcha parando no acostamento da estrada, o velho se aproxima e pergunta:
- Doutor, dá pra me levar até Patos do Majó Migué ?
- Pode subir compadre !
O velho vai até a trazeira do carro e sobe pelo para-choques sentando exatamente do lado onde viajavam os dois operários. Zé olha pelo retrovisor e pede ao velho para sentar do lado oposto, onde só viajava um operário, assim o peso ficaria melhor distribuído na carroçaria. Enquanto isto Zé Bezerra dá partida no carro. Sem querer olho para traz, e vejo o velho ainda de pé tentando chegar ao seu lugar, quando perde o equilíbrio e cai de cabeça na estrada, nervoso olho para Zé a falo:
- Zé olha para traz !
Zé Bezerra freia a camioneta, vira-se para traz bruscamente olhando através do vidro trazeiro da cabine:
- Meu Deus, matei o homem ! Não disse que estava para acontecer
alguma coisa. !
Meus sonhos não falham !
Paramos o carro no acostamento e tratamos de socorrer o velho, o mesmo havia batido com a cabeça numa pedra, sua testa sangrava, pegamos o homem e o levamos para uma mercearia que ficava em cima de um barranco as margem da estrada. Lavamos o ferimento com álcool, enquanto a mulher do “bodegueiro” deu ao velho uma “lapada de zinebra” (segundo ela para espalhar o sangue). Voltamos a camioneta e colocamos o velho na cabine e seguimos em direção a Patos, só que desta vez bem mais rápido.
O velho com um chumaço de algodão na testa tentava estancar o sangue que ainda escorria em pequena quantidade, olha para Zé Bezerra e fala:
- Doutor, eu acho que hoje pisei em rastro de côrno !
- Porque meu velho ? perguntou Zé
- Eu tava indo prá Patos prá ir ao hospitá !
- Ia fazer o que compadre ?
- Me trata de uma queda de burro que levei ontem ! Agora em riba
de queda , COICE !
O jeito que tivemos foi rir da desgraça do pobre velho. . .