O MILAGRE DA BICA
José e Francisca eram dois irmãos, muito conhecidos na região afinal de contas vieram para estas paragens ainda crianças juntamente com o pai que trazia a patente de Coronel. Dizem os moradores mais antigos do povoado que embora gostasse de ser chamado de Coronel Tonico Barbino, o homem era uma boa pessoa, muito dado e prestativo com o povo da região, apesar de se intitular ateu convicto, ideologia que passou para o filho José Barbino, e o que, segundo dizem, enchia de tristeza a esposa, uma mulher muito religiosa e temente a Deus.
José Barbino, a exemplo do pai, também se tornou uma pessoa muito boa, era bem situado na vida graça a herança paterna, possuía uma bela fazenda de café com muitos colonos, pois alem da parte que lhe coube por direito no falecimento do pai, administrava também a parte da irmã, conhecida popularmente por Chica Barbina, uma deficiente mental que dependia do irmão, tinha dificuldade de falar normalmente, geralmente abolindo a primeira palavra e emitindo uma voz fanhosa, de difícil entendimento para as pessoa que não conviviam com ela. Depois da morte da mãe que ocorreu alguns anos após a do pai, Chica Barbina não quis mais ficar morando com José, mudou para uma pequena e modesta casinha na colônia de moradores da fazenda retirada a aproximadamente duzentos metros da casa sede onde morava o irmão. Chica não trabalhava, mal cuidava de sua residência e vivia pelas redondezas, sempre reclamando da má sorte e falando mal do irmão:
_________ “Uzé é uim pra mim, me ate com eio, Poe de astigo, me udia que soveno”
Para os moradores que a conheciam, não ficava difícil decifrar que o que ela dizia era mais uma lamuria da vida:- “José é ruim pra mim, me bate com o “reio”, me põe de castigo e me judia que só vendo” e assim ela contava para todos a mesma historia, porem o povo, principalmente os moradores da colônia a tratavam com carinho e conduta de Chica não irritava o irmão, que simplesmente justificava:
_________ A Chica não bate bem das idéias, o que eu posso fazer?
Mas apesar das justificativas, as evidencias eram claras que o homem realmente maltratava a irmã, talvez não a ponto de dar-lhe surra com o reio conforme Chica falava, mas não demonstrava o carinho sonhado por Chica, até mesmo pelas circunstâncias em que precisava conviver com a irmã demente. A verdade é que ninguém podia fazer nada, pois apesar de tudo, ele era o parente mais próximo da moça e não deixava lhe faltar o necessário para a sua sobrevivência e todos sabiam que era bobagem dar muita coisa para ela, pois aquilo que não coubesse dentro de suas latas de alimento ou que não tivesse uso no momento ela simplesmente jogava fora.
Muitas são as historias contadas sobre a Chica Barbina, porem o mais impressionante, e que muitos chegam a afirmar ter sido um verdadeiro milagre, foi quando certo ano, Chica Barbina pediu insistentemente ao irmão um peixe, justificava que a Semana Santa estava chegando e ela não queria comer carne, um preceito ensinado por sua mãe e que ela, não se sabe porque, resolverá por em pratica. Dizem que o irmão incrédulo zombou da coitada dizendo que não iria comprar e que se ela quisesse comer peixe que fosse ao rio pescar. Chica insistiu tanto que dias antes foi preciso que o irmão fizesse ameaças com o chicote para que ela pudesse se acalmar e parar de pedir o tal peixe.
Na Sexta Feira Santa de manhã, Chica acordou e como de costume, pegou o seu pote e se dirigiu a mina d’água que ficava a poucos metros da colônia, para pegar água de uso rotineiro na casa. Contam os moradores que se ouviu uma gritaria da mulher na bica, os vizinhos correram para local atendendo o pedido de Chica e chegando lá ficaram estarrecidos diante do que viram: Um enorme peixe curimbatá jazia nadando dentro do Pote de água da mulher que estava apavorada.
Com a algazarra toda, José também foi ver o ocorrido e apesar da sua incredulidade, ficou maravilhado com o que presenciou. Chica teve seu peixe no almoço daquele dia e continuou sua vidinha demente. O Irmão passou, a partir de então, dar mais valor as festividades religiosas e a respeitar a fé do povo da região, apesar de sempre proclamar um ateu convicto:-
_________ Sou ateu, graças a Deus !