A MORTE DE TERTULIANO

Tertuliano foi um desses homens desafortunado pelo destino. Conta-se que chegou na região ainda jovem e se estabeleceu com a esposa grávida de poucos meses, porem não foi feliz no casamento, a esposa ao dar a luz, por mais que Dona Jandira, parteira do lugar labutasse, só conseguiu salvar a vida da filha, a mãe infelizmente morreu. Ao saberem da morte da filha, o sogro viera buscar a neta e Tertuliano nada pode fazer pois, não tinha como cuidar da filha recém nascida. Abalado, tornou-se um homem solitário, trabalhando de diarista, queimava lata nos barracos e ranchos da região, ora trabalhando para um, ora trabalhando para outro, porem tinha uma qualidade, alias, varias qualidades: católico fervoroso, rezador de terço, devoto de Santa Rita, contador de causos e tanto contava que poderia se escrever um livro “os Causos de Tertuliano”, conselheiro e alem do mais, um ótimo companheiro em que se podia contar nas horas difíceis da vida.

Contam que certa vez estavam num plantio de café na propriedade onde esta localizada a igrejinha conhecida por todos como a Igreja de Tertuliano, não e homenagem a Tertuliano, o “maior teólogo” ortodoxo da Igreja primitiva, mas em respeito ao conterrâneo, que respeitou e testemunhou até a morte, a fé no Deus Verdadeiro. Dizem que neste dia, desde a manha o velho Tertuliano caboclo conhecedor da natureza, prevenia a todos que o tempo anunciava um temporal a tarde. Dito e feito, por volta das três horas da tarde, o tempo escureceu, nuvens negras cobriram o céu, relâmpagos riscavam o espaço, os trovoes retumbavam fazendo eco mata adentro e caiu uma forte chuva. O negocio foi esconder num rancho de sapé construído no roçado para estes fins. Tertuliano homem precavido e cuidadoso, procurou orientar os trabalhadores para guardarem bem suas ferramenta. “O aço atrai raio” dizia ele. Durante o temporal os dois molecotes que estava entre os diaristas, começaram a caçoar do velho Tertuliano e de sua religiosidade, pegaram um lima de amolar ferramentas e a cada relâmpago, e batiam-na numa pedra fazendo produzir faíscas e perguntava ao bondoso ancião se não produziam raios maiores do que Deus, e davam gargalhadas. O patrão, homem sério, mas um pouco agnóstico, ralhou com os meninos umas duas ou três vezes, mas qual o que eles continuaram com a brincadeira.

A chuva já abrandou, os relâmpagos e trovões continuavam, não com a mesma intensidade e freqüência de antes e os meninos continuavam com a brincadeira, nem o patrão estava dando atenção para a brincadeira deles, porem o velho Tertuliano irritado com a falta de respeito, pediu licença aos companheiros se justificou:

__________ Não suporto o atrevimento destes moleques, isto é um desrespeito com as coisas do criador, não vou ficar um minuto mais aqui, vou me esconder debaixo da figueira.

Retirado do rancho a mais ou menos uns duzentos metros, existia um velho pé de figueira já judiada pelo tempo e pelas queimadas constantes que formaram um enorme buraco em seu tronco. O patrão tentou impedir que o bondoso senhor deixasse o rancho, mas não teve jeito, correndo pela chuva fina, foi se abrigar na oca da figueira e patrão mais uma vez ralhou com os moleques:

__________ Vamos parar com esses abusos, vejam no que esta dando! Que pouca vergonha!

Passaram se alguns minutos, talvez um quarto de hora, um forte relâmpago cortou o céu clareando a tarde escura seguindo de um estrondo ensurdecedor, a terra parecia ter tremido e todos ficaram paralisados. Instantes depois, já refeitos do susto, olharam no sentido de onde viera o clarão, a figueira havia rachado ao meio, correram para lá e encontraram o corpo de Tertuliano carbonizado a alguns metros do tronco da majestosa arvore.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 14/03/2010
Reeditado em 14/03/2010
Código do texto: T2138055
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