CEMITÉRIO ASSOMBRADO

Contou-me o amigo José Pereira que certa vez ele e seu primo-irmão Agenor namoraram duas irmãs lá para os lados da Lagoa Seca, denominação dada a um Bairro onde existia uma Lagoa que no período das águas estava sempre transbordando e na época da seca, minguava chagando, quando o verão era muito longo, a secar. Dizia ele, eu e o Agenor éramos unha e carne, nascemos no mesmo bairro e com poucas diferenças de idade, sendo ele apenas um mês e alguns dias mais novo do que eu, crescemos juntos, sempre vizinhos e o fato de namorarmos as irmãs, parece que a nossa amizade se fortaleceu ainda mais

Detalhe deste namoro era que para chegar até a casa delas era preciso margear o velho cemitério do patrimônio, trecho em que não faltavam estórias escabrosas de almas do outro mundo que apareciam para atormentar as pessoas nas imediações do cemitério. Certa tarde de Domingo, fomos namorar, estávamos bem chegadinhos e o sogro já nos deixava a sós, porem ficava de olhos bem abertos. Verdade é que a tarde foi aos poucos indo embora e quando demos por conta, já era noite, hora de irmos embora para casa. Meu primo tinha ido numa égua baia de sua propriedade, eu, embora tendo minha montaria, devido a distancia não ser longa, preferi ir a pé, caminhando ao lado da montaria de meu primo.

A Noite estava clara, pois a lua crescente prateava a imensidão. Como eu estava a pé e o meu primo a cavalo, me despedi da família da namorada e sai na frente, enquanto meu primo despreocupado, pois tinha a certeza de minha companhia alguma centenas de metro adiante, principalmente ao passar os trecho do cemitério, continuou no papo enquanto fui embora.

Estava já as margens do cemitério quando escutei o galope da montaria do primo que vinha ao meu encalço, medroso como era com certeza estava morrendo de medo. O cemitério estava abandonado, e a muito tempo ninguém era sepultado ali, pois desde que o povoado fora transferido para as proximidades da estrada de ferro, também prepararam um outro campo santo nas proximidades do novo povoado. Mal cuidado, o capim favorito crescera entre os túmulos e nesta época do ano estava florido e em contraste com a luz do luar, movidos pela brisa leve da noite, dava uma linda visão, parecendo um mar de prata a ondular. Antes de ser avistado pelo primo e sabendo de seu medo, resolvi fazer uma brincadeira com ele, me escondi no meio do capinzal, ao lado de um tumulo, quando ele passou encabulado, procurando me avistar na reta do estradão, dei um gemido bem alto. Ele parou o animal, perguntou com a voz tremula:

________ Zé! É você quem está ai?

Novamente gemi bem alto e só escutei o som da chibata no lombo da égua que disparou estrada afora. Sai de trás do tumulo rapidamente na tentativa de chamá-lo, mas só pude ver sua camisa branca esvoaçando pela velocidade do cavalo que logo despareceu na imensidão deixando apenas um rastro de poeira que levantou das patas do animal. Retomei sossegado a caminhada de volta à casa.

No outro dia, após o árdua rotina de trabalho, como de costume, a tarde ele apareceu em casa para conversarmos e a primeira coisa que me disse era se eu tinha vindo correndo da casa do Zé Baiano, esse era o nome do pai de nossa namorada. Eu disse que não e ele então me relatou ter visto uma assombração no cemitério, era uma voz melancólica que ouviu varias vezes enquanto cavalgava margeando o cemitério. Fiquei sério e num ar de espanto, perguntei se tinha ficado com medo, se correu e categoricamente me respondeu:

________ Eu não! Continuei cavalgando normalmente como se nada tivesse ouvido.

E ainda me passou uma lição:

________ Não devemos ter medo dos mortos Zé! Os vivos é que são perigosos.

Dei um sorriso maroto e apenas concordei com ele.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 02/03/2010
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