SABEDORIA DE CABOCLO
O seu Chico, como era conhecido na região, era um velho lavrador tradicional, neto de um dos desbravadores do sertão paulista, nascido e criado na terra, como dizem os seus conterrâneos. Um homem que, embora rude por natureza, era muito respeitado por todos da região por ser dono de uma sabedoria invejável e por sua idoneidade moral que dava autenticidade a sua origem sertaneja. Como todo bom homem do sertão, tinha uma prole grande, perfazendo um total de nove filhos, sendo três mulheres e seis homens, todos vivos, fortes e trabalhadores e lembrando em tudo a sabedoria paterna pois, embora com pouca escolaridade, característica dos homens da roça daqueles tempos, todos sabiam o essencial: ler, escrever e fazer contas. Porem o que deixava o velho Chico muito satisfeito é que alem destes dotes, os filhos, todos eles, puxaram a popularidade e a honestidade do pai, sendo pessoas bem conceituadas, o orgulhoso pai não cansa de dizer:
__ São meus filhos, mas se preciso for, até hoje, mesmo os meninos casados, se saírem da linha, entra na guasca.
Assim o Seu Chico levava uma vida sossegada na sua intocável propriedade localizada num bairro populoso no município e que não distava muito da pequena e pacata cidadezinha do interior do estado.
Aconteceu que certo dia, um dos sitiantes do bairro, cuja propriedade confrontava com as do Velho Chico, vendeu suas terras para um conceituado Senhor da Capital, que havia se aposentado na cidade grande e tendo parentes na pequena cidade, resolveu adquirir as terras para mostrar, diziam as más línguas, para os sertanejos da região como se trabalha.
Com este boato correndo a solta pelo povoado e região, o novo morador já se apresentou com um ar de superioridade, uma imagem de arrogante, almofadinha de cidade grande, criado e educado num ambiente diferente deste interiorano e que, portanto, não era visto com bons olhos pelos moradores do local, e muito menos agora pelo Seu Chico, que passou a observar com astucia todas as condutas do novo vizinho pois seria um fiasco se esse granfino passasse as pernas nos matutos do campo.
Foi numa dessas observações que o Seu Chico notou que o aristocrata logo após tomar pose do sitio e junto com as reformas que julgara necessária, fez também um belo portal de entrada da propriedade, onde colocou uma enorme placa de madeira bem trabalhada, que alem do nome da propriedade: “Sitio Tropical”, logo abaixo seguia o lema:- “Aqui se trabalha”
Preocupado com o que observara, o velho sertanejo matutou, matutou, matutou e chegou a conclusão que aquilo era um ofensa, não somente a sua pessoa, mas a todos os moradores do bairro e sem pestanejar, resolveu dar a resposta na mesma moeda e numa prancha de madeira escreveu a seu modo: “Sitio do Chico”. E acrescentou logo abaixo do nome da propriedade a frase:- “Onde trabaio não é novidade”. E pregou numa Paineira grande que dava entrada a sua propriedade.