O HOMEM QUE VEIO DO CÉU

(Causo contado por vovô João Rios)

Havia um ladrão muito esperto que gostava de lograr as pessoas ingênuas.

Caminhando pela longa estrada, avistou uma linda fazenda.

Aproximou-se, e de certa distância ficou observando a casa.

Notou que um homem saíra a cavalo.

Pensou... Hora de entrar em ação!

Chegando perto do casarão procurou investigar as minúcias.

-Gritou:

- Oh, de casa!

Uma bondosa senhora apareceu para atendê-lo.

- Boa tarde, senhor.

- Minha senhora, venho de muito longe, a senhora nem imagina de onde...

Indagou curiosa:

- De onde, meu filho?

- Venho do céu!

A mulher ficou boquiaberta, olhando para aquele homem, que afirmava com tanta sinceridade...

Ela pensou: deve ser um anjo, enviado pelo falecido Joaquim.

Abriu seu coração, contou àquele homem que era viúva há quinze anos, mas casara-se novamente.

Contou-lhe também que sempre mantivera um grande amor recôndito pelo falecido Joaquim.

Sem nenhuma maldade, perguntou ao homem:

- Você por acaso conhece lá no céu, o meu falecido Joaquim?

-Claro, minha senhora!

- Inclusive foi ele que me pediu para lhe dar notícias. Disse que sente muito sua falta...

-Vamos entrar...

- O que mais ele falou?

- Ele perguntou se a senhora ainda guarda seus pertences...

-Ah! Sim!

- Ninguém nunca tocou em nada dele, nem no cavalo "Alazão", que ele mais gostava!

-O pobre coitado, senhora, sente muita falta dos seus pertences...

-Pois então, você levará tudo que fora dele.

Arrumou sacos de roupas, agasalho, comida, até o relógio de ouro que estava pendurado na parede...

- Você vai levar também o "Alazão", porque ele deve estar com muita saudade.

- Ah, sim, ele sempre fala das cavalgadas..

Depois de tudo pronto, o sol ainda estava a pino.

O homem se despediu da viúva, montou no "Alazão" e foi embora feliz da vida.

Assim que seu marido retornou do campo, tocando o gado, ela correu ao seu encontro.

-Marido! Você nem imagina o que aconteceu!

Hoje, recebi aqui, a visita de um anjo...

Ele me disse que era do céu, trouxe-me notícias do falecido Joaquim. Então, eu dei todos os seus pertences para que ele lhe entregasse...

-Não acredito!!!

- Muié, ocê é uma tola! Esse homem, não é homem do céu nada!!!

- É um ladrão!

Arreou o cavalo mais veloz e foi atrás dele.

Só avistava poeira!

O ladrão, que de bobo não tinha nada, viu de longe que estava sendo seguido...

Escondeu tudo que roubara no mato e voltou a pé.

Bolou um plano:

- Fez um "monte" e tampou com o chapéu.

- O homem aproximou-se a cavalo e perguntou-lhe:

- Ei, amigo, o que está segurando embaixo deste chapéu?

- É uma juriti, tô esperando meu filho trazer a gaiola para levá-la.

-Por acaso, você não viu passar por aqui, um homem levando vários sacos, montado a cavalo?

-Oh! Faz tempo que ele passou. Ele tinha cara de ser muito mau!!! (Amedrontou-o).

- Se você quiser segurar a juriti, enquanto meu filho traz a gaiola, é só me emprestar seu cavalo que vou atrás dele pra você.

- Combinado!!!

O homem deu o cavalo ao ladrão e lá ficou segurando a juriti.

Esperou...Esperou...Nada de menino, nem de gaiola...

Como já havia passado umas duas horas, ele analisou:

-Este bicho deve estar morto, porque até agora nem piou!

Levou vagarosamente a mão suspendendo um pouquinho o chapéu...

-Eco!!!

Que susto ele levou!

Saiu com a mão lambuzada limpando-a no capim.

- Puxa vida! Aquele canalha é o ladrão!!!

Já era tarde, o sol se punha no horizonte, o homem retornou à sua casa.

Quando a mulher o viu chegando a pé, logo sondou:

- Uai, marido?!

- Por que voltaste a pé?

- Muié!!! Aquele homem, era o homem do céu mesmo. Dei até o meu cavalo pra ele dar de presente pro falecido compadre André!

Não podendo dizer a verdade, começou a chorar. A mulher lhe deu um abraço de consolo.