Gato do Mato
Mister Paul Smith era um zoólogo inglês, ele fora contratado pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, para reorganizar o zoológico da cidade. Acontece que Mister Paul era um grande admirador da fauna brasileira, a sua primeira providencia ao assumir a direção do zoológico, foi conseguir a maior quantidade possível de animais da nossa fauna. Ele viajava constantemente a procura de animais, eram viagens infindáveis através do pantanal, cerrado, sertão e floresta amazônica. Depois de mais de um ano de constantes buscas o seu plantel estava quase completo, para concluir o seu trabalho, só restava conseguir um “Gato do Mato”, e/ou “Maracajá” animal muito comum dos Cariris e Sertão da Paraíba.
Certo dia sem que ninguém esperasse, chega Mister Paul à cidadezinha de Prata – PB. O homem trazia uma recomendação para procurar um morador da cidade chamado “Caboclo Ferreira”, segundo as informações, a única pessoa capaz de apreender um gato do mato, sem molesta-lo. - Mister Paul ficou alojado na única pensão existente na cidade. No mesmo dia mandou um portador a procura de “Caboclo Ferreira” que morava num sítio próximo a cidade. - No outro dia Caboclo Ferreira vai até a pensão a procura do gringo. - Com a ajuda de um professor da cidade que serviu de interprete, Mister Paul contrata os serviços de Ferreira, antes lhe fez uma recomendação, ele teria de pegar o animal sem molesta-lo. Acontece que Caboclo Ferreira não tinha a menor idéia do significado da palavra “Molestar”, mesmo assim, aceitou a empreitada.
No dia seguinte os três homens deixaram a cidade ainda escuro e se embrenharam cariri adentro, mas gato Maracajá que era bom, nem pensar, o bicho não aparecia mesmo.
Mister Pail, pessoa de fino trato, não conseguia comer a comida da pensão, por este motivo, diariamente, uma baratinha Ford 29 iam ao Grande Hotel de Campina Grande - PB., apanhar o almoço e jantar do gringo. ,- O tempo ia passando e nada de Caboclo Ferreira capturar o gato do mato. Miater Paul começou a ficar preocupado, ele já estava ficando quase sem verbas para a sua manutenção na cidade, portanto teria de retornar ao Rio de Janeiro.
Caboclo Ferreia não estava nem um pouco preocupado em capturar o gato. Em todo sua vida, nunca tinha passado tão bem, comendo do bom e do melhor e ainda mais filando do uísque escocês do Mister.
No dia em que completou um mês que Mister Paul havia chegado a Prata, ele chama Caboclo Ferreira, e. . .
- Mister Caboclo, acho que tenho de desistir da captura do gato, já estou quase sem dinheiro e tenho de retornar ao Rio de Janeiro !
- Tenha caima “seu” Mister, tô cun pressentimento qui amenhã noi pega o gato!
- Sei não Mister Caboclo, mas vamos tentar !
No dia seguinte ainda escuro o três homens partiram para mais um dia de buscas ao gato. Ainda não havia percorrido um quilometro quando um grande Maracajá cruza o caminho na frente deles se metendo mato a dentro, o gringo nervoso grita:
- Pega o gato Mister Caboclo ! Gritou Paul em Inglês
- Agarra o gato Caboclo ! Falou o professor em português
Caboclo Ferreira fez carreira atrás do gato, o gringo só viu o mato abrir e fechar, era aquela quebradeira de mato Cariri adentro. O gringo corria o mais que podia, mas por falta de costume em correr dentro da “Macanbira”, foi ficando para trás, depois de muito andar, encontra “Caboclo Ferreira” parado junto a uma grande pedra, se aproxima, e. . .
- Onde está o gato Mister Caboclo ?
- Ta aqui dentro da loca seu Mister !
Os três homens esperaram quase o dia inteiro que o gato deixasse a loca, e nada, o gringo com aquele sua pela alva como uma porcelana chinesa, agora vermelha como um pimentão; para amenizar a sede tomava generosas doses de uísque e “Caboclo Ferreira” lhe acompanhava. Lá para as tantas, Caboclo Ferreira sugere:
- Seu Mister qué que eu pegue o gato ?
- Nós estamos aqui para isto Mister Caboclo, pegue o gato homem !
Caboclo Ferreira arregaça a manga da sua camisa de mescla e mete a mão no buraco, de repente foi aquele alarido, o gato miava, bufava, e dava esturros como uma onça, e Caboclo Ferreira com a mão dentro do buraco. O gato lhe mordia a mão e o braço, este para mostrar serviço, fingia nada sentir, em dado momento não agüentando mais as mordidas do gato, olhou sério para o gringo e gritou:
- SEU MISTER , posso puxar o gato ?
- Faça isto homem de Deus ! Gritou aflito o gringo para o interprete
- Arranca o bicho Caboclo ! - Gritou o professor interprete
Caboclo Ferreira firma as alpargatas na pedra para enfiar o braço mais profundamente na loca, novamente aquela barulhada de miados bufadas e esturros, de repente aquele silencio, só quebrado pelo piu de um “Gavião Peneira”, (Gavião Perneira é uma ave de rapina do Nordeste, capaz de pairar no ar como uma beija-flor, para localizar a sua presa) que fazia seu balet parado lá no alto, então. . .
- Peguei seu Mister, vô arrancar o bicho !
Mister Paul era total apreensão, de olhos arregalados observava o braço de “Caboclo Ferreira” saindo vagarosamente de buraco, sua mão estava enroscada em torno do pescoço do gato, que, por sua vez, jazia inerte com um palmo de língua fora da boca.
Quando o gringo viu aquela cena, o gato morto com um palmo de língua fora da boca, gritou desesperadamente para o sei interprete:
- Mister “Caboclo” Molestou o animal ! MISTER “CABOCLO” MOLESTOU O
ANIMAL ! ! !
O interprete repete as palavras do gringo para “Caboclo Ferreira”, este não gostou nem um pouco de ter sido gritado pelo galego, e . . .
_ Eu lá mulestei este “mulestrado” gringo fio da P.. . .. Cuma ele mordeu a
minha mão, eu só dei uma apertadinha na gaiganta dele. . .
°°° O °°°