EMPÓRIO SÃO JOSÉ DOS CAFEZAIS.

EMPÓRIO SÃO JOSÉ DOS CAFEZAIS.

No pé do morro da biquinha, há um riacho, conhecido por Córrego das Antas,

Onde há uma pequena ponte e um morro comprido.

E no início do morro, existe uma curva de barranco alto e do lado direito

Há uma vendinha meio escondida, empoeirada e antiga na região.

Um estabelecimento chamado pelos habitantes dali de venda do Zé do Pinho.

Esse apelido foi dado ao seu José Mendonça,

Devido a uma violinha de pinho que de vez em quando chora em seus dedos.

Do lado de fora da venda, há uma pedra onde os compadres ficam “compadiano”.

Muitos caboclos já fizeram seus cigarros de palha,

Mascaram fumo de rolo, encheram a cara de cachaça e dormiram nela,

Antes de levar o mercadinho para as crianças que ficaram em casa.

Ao lado da pedra, uma plaqueta com os dizeres: “Empório São José dos Cafezais”.

Duas portas de madeira são o suficiente para entrar no recinto do pequeno armazém.

Nas ripas e caibros do telhado visível de dentro da mercearia, as aranhas tecem

Todas as noites as armadilhas para caçarem os insetos que fazem por ali moradas.

Nas paredes, algumas propagandas já bem antigas de cerveja,

De cigarro continental e minister e um cartaz do lançamento do DKV em São Paulo.

Sem contar as fotos das decisões de São Paulo, Palmeiras, Santos, Flamengo... Todas dos anos 60.

Ao lado direito de quem entra, em cima do canto do balcão,

Uma vitrine com doces caseiros e alguns doces industrializados.

Doces de abóbora, de banana, pés-de-moleque, geléias, daquelas de duas cores

Bolachas Maria e Netinho que ficam dentro de uma lata de 20 litros.

E um vidro enorme, que fica ao lado da vitrine, onde seu Zé do Pinho guarda as balas.

Na vitrine do balcão de madeira de jacarandá,

Algumas chupetas de plástico, empoeiradas e que há anos estão ali para serem vendidas.

Alguns pentes flamengo, duas ou três mamadeiras para bebês e um retratinho do antigo titular do empório:

Seu Inácio Mendonça de Melo, falecido há muitos anos.

Na parede de fundo da venda, alguns alumínios amarelados pela poeira da estrada.

Dois quadros pendurados na parede, um do Sagrado Coração de Maria e outro de São Jorge.

Ambos do tempo em que o seu Inácio estava em total atividade.

Também se encontra alguns produtos plásticos e alguns brinquedos de madeira,

Produzidos pelos presidiários da cidade.

No caixote de madeira com várias divisórias ficam o arroz, o feijão, o açúcar, o fubá e a farinha.

Seu Zé do Pinho vende esses produtos por quilo para a freguesia local.

Enquanto, querosene, álcool e azeite, ele vende por litro.

Há um consumo razoável por parte da clientela.

E por falar em querosene, numa tarde dessas de chuvosas, chegou no empório,

Seu Joaquim do Prado, um negro muito conhecido no lugar.

Entrou no empório, tirou o chapéu, encostou os cotovelos no balcão e disse:

- Cumpai Zé, vancê podi arrumá uns doi litu di crelosene aí?

Prontamente o seu Zé do Pinho foi atender o seu compadre e antigo freguês.

Enquanto isso, dona Feliciana, esposa do seu Zé do Pinho,

Tinha um excesso de riso no fundo do empório, daqueles de perder o fôlego.

Depois de respirar e ter domínio da situação ela disse:

- Cuitadu do cumpai Quim,

Já tem mai de setenta anu e ainda num aprendeu falá creosena

Seu Joaquim do Prado tomou uma cachaça da boa,

Pegou os dois litros de querosene e sumiu no cerrado.

É isso aí!

Acácio

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 15/12/2009
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