Penas para Todos os Lados

Hoje falarei de um querido amigo, que já partiu desta para uma melhor, trata-se de Giovanni Gioia e/ou Dr. Gioia como era mais conhecido. Dr. Gioia era italiano de nascimento, mas, campinense de coração. Aqui ele estabeleceu-se, constituiu família, trabalhando pelo engrandecimento do nosso Estado e da nossa Campina Grande, construindo um incalculável numero de obras, tanto na Paraíba como em todo o nordeste, através da sua construtora a empresa G. Gioia & Cia. - Dr. Gioia era uma pessoa de fino trato, papo agradável, impecável na sua maneira de vestir, parecia até um lorde inglês, e gostava também de contar os seus “causos” - E é sobre uma de suas narrativas o nosso conto de hoje.

Em abril /69, ganhamos uma concorrência do DNER, para construirmos a ponte sobre o Paraíba, na BR-230 – PB., (Transamazônica) trecho João Pessoa x Campina Grande, bem próxima ao Posto da Policia Rodoviária Federal, na entrada de Sapé - PB.

Como era época de inverno, tivemos de executar um escoramento especial, que nos desse uma certa tranqüilidade durante as constantes cheias do Rio Paraíba. Para que o escoramento da obra fosse executado, passamos a construir um bate-estacas, nas nossas oficinas aqui em Campina Grande. Quando o equipamento ficou pronto, caímos em campo a procura de um “pilão” (pilão é uma peça retangular de aço fundido, por intermédio da qual as estacas são cravadas no solo. Está peça funciona como uma grande marreta).

Como as fundições local não trabalhavam com aço fundido, apelamos para a praça do Recife. Lá também não encontramos quem executasse o serviço. - Já estávamos a ponto de desistir da idéia, quando alguém nos informou que o Dr. Gioia tinha a peça que procurávamos.

Fiz uma ligação telefônica para ele, tendo o mesmo se comprometido a nos emprestar a peça. No dia seguinte fui até a sua cerâmica que ficava localizada na saída da cidade. - Quando cheguei no seu escritório, fui recebido pelo próprio, ele fez questão de ir pessoalmente até a oficina, que ficava instalada nos fundos do terreno da cerâmica, para nos entregar a peça.

Como a oficina ficava distante do escritório, pedi ao Dr. Gioia para me acompanhar na pick-up que levara para apanhar o pilão.

Quando Dr. Gioia entra na camioneta , se depara com uma espingarda calibre 12 de dois canos, maca Santa Etiene, que estava sobre o banco do carro, que, por sinal eu acabara de ganhar numa rifa naquela manhã.

Quando D.Gioia pegou na arma ficou encantado com o seu acabamento, verdadeiramente a espingarda era uma obra de arte, com desenhos artísticos, com motivos de caçadas, incrustados nos canos e nas tampas dos fechosm dos gatilhos.

Com a arma na mão, enquanto nos dirigíamos para a oficina, D. Gioia me contou o seguinte relato: Ele me disse que quando ainda morava na Itália, todos os anos no período de ferias. Gostava de ir à África para participar de safáris. Um desses safaris foi realizado no Quênia - África. O grupo fora ali para caçar leões. - Numa determinada manhã, em plena savana africana, D. Gioia acompanhado por um guia nativo da tribo Massai, seguia as pegadas de um grupo de leões. - De repente o guia que seguia em sua frente, fez sinal para que ele parasse, pois a poucos metros a frente o grupo de leões se banqueteava com uma carcaça de zebra.

Os dois se encontravam contra o vento para não chamar atenção dos animais. - Quando estavam a uns 60 metros dos leões, Dr. Gioia engatilha a ama, colocando a bala na agulha. - Inadvertidamente o guia pisa num galho seco, chamando a atenção dos animais. Um grande leão de juba preta, talvez o chefe do bando, parte em direção aos dois.

A principio o grande animal caminhava vagarosamente, rastejando como se fosse um gato doméstico prestes a pegar um rato. - De repente o leão dá um forte urro e parte correndo em direção ao caçador e seu guia.

Dr. Gioia com a arma apontada em direção a fera, aguardava somente o momento de acionar o gatilho dando o tiro fatal, e. . .

Neste exato momento, o relato foi interrompido por um dos seus mecânicos, que, se aproxima da porta da camionete, e. . .

- Dr. Gioia dá licença ? Perguntou o rapaz

- Pois não meu filho, o que você deseja ?

- Acaba de chegar do sertão um caminhão,

carregado com varias betoneiras ! Eu deixo as mes-

mas no caminhão para seguir para a obra de

Alagoas, ou descarrego ?

- Dexei-as em cima do caminhão, meu filho !

Respondeu

Quando o mecânico se afastou, Dr. Gioia retorna a narrativa e me pergunta:

- Meu filho, onde paramos ?

- O senhor se preparava para acionar o gatilho do rifle ! Respondi

- Pois bem, prendi a arma com firmeza, acionando o gatilho, e. . PUMMM, foram penas para todos os lados. . .