O Carro do Major Juvino
Meses atrás fui a Campina Grande para resolver uns assuntos pendentes. Aproveitei da oportunidade para ir ao Banco Itaú para fazer um saque no caixa eletrônico. Lá chegando encontrei dois velhos amigos, eram Djalma do Ó e Ronaldo Correia, cumprimentei a ambos e me dirigi para um dos caixas eletrônicos, quando escuto alguém me chamando, era o Ronaldo Correia, me detenho e vou até onde ele se encontrava. - Ronaldo me passou a fazer uma série de perguntas sobre Campina Grande antiga, tais como, localização de alguns estabelecimentos comerciais, nome de antigos comerciantes, etc. etc. - Em dado momento passamos a falar sobre os antigos proprietários de veículos da cidade. Como naquela época apenas uma pequena e seleta minoria tinha veículos, com a ajuda do Djalma do Ó, não foi lá tão difícil enumera-los. Foi aí que ele resolveu contar um fato, que transformei no “causo” de hoje. - Djalma nos disse que talvez o seu avô paterno, o Major Juvino do Ó, tenha sido o primeiro proprietário de um veículo aqui em Campina Grande (sua informação é apenas uma suposição, mas vamos deixar isto pra lá, o mais importante é a sua narrativa). - Certo domingo o Major Junino do Ó, vinha pela Maciel Pinheiro dirigindo o seu Ford 29. Havia terminado a missa das 10h00 celebrada na Matriz (hoje catedral). As calçadas de ambos os lados da Maciel Pinheiro estavam abarrotadas de fieis que retornavam para as suas residências, muitas pessoas caminhavam pelo leito da rua. Como naquela época o movimento de veículos na Maciel Pinheiro era pouco ou quase nenhum, o trafego poderia ser feito nos dois sentidos. - O Major Juvino entra na Maciel Pinheiro no sentido Banco Itau x Prefeitura Municipal, era seu pensamento fazer uma visita ao seu filho e meu padrinho, o comerciante Malaquias de Sousa do Ó, que morava numa casa quase em frente onde hoje funciona o Majestic Hotel. O fordeco com aquele seu funcionamento que mais parecia um tic-tac de um relógio, vinha célere rua afora numa velocidade 15 km/h. - Quando de repente, sem que ninguém esperasse, todos passaram a ouvir um barulho estranho nos céus da cidade. O povo parou nas calçadas e de cara para cima procuravam identificar o causador daquele barulho. Era um pequeno avião vermelho, de asas superpostas num vôo rasante sobre a Maciel Pinheiro, todos ficaram bestificados, talvez tenha sido aquela a primeira aparição de um avião nos céus de Campina Grande. - Enquanto todos gesticulavam apontando para o alto, lá vinha o carrinho do Major Juvino, este por sua vez vendo o pessoal postado no meio da rua, cinqüenta metros antes passou a buzinar e diminuir a marcha do carro. O povo estava eufórico com a aparição do avião, não dando a menor atenção ao carro do Major Juvino que se aproximava.. Um rapaz mais eufórico que os demais com a aparição do avião, corria Maciel Pinheiro afora, gesticulando e apontando para o alto, quando sem querer esbarra de frente no carro do Major Juvino, com o impacto o rapaz e jogado para trás, caindo de costas no calçamento. - Naquele dia Campina Grande estava mesmo bastante agitada, primeiro o aparecimento do avião, agora um atropelamento. Por uns instantes todos esqueceram do avião e correm em direção ao local onde o rapaz se encontrava estendido no leito da rua. Logo, logo forma-se uma multidão, todos queriam ver de perto o atropelado. - Naquele instante surge no local uma autoridade, era um cabo de polícia, que, de cassetete na mão, vai empurrando a multidão até o local onde o rapaz estava caído em frente ao carro do Major Juvino, então a autoridade passou a gritar:
- Mais isto é um absurdo, ninguém pode mais andar tranqüilo nas ruas da cidade, que logo é atropelado por um motorista irresponsável ! - Eu quero saber quem é o “chauffeur” deste carro ?
O Major Juvino sabendo que não fora ele o causador do atropelamento e sim o rapaz que atropelara o seu carro, tranquilamente assistia aquela movimentação a sua volta. Vendo o cabo vindo em sua direção, bota a cabeça para fora da janela do carro, e. . .
_ Sou eu Cabo Marinheiro, Major Juvino do Ó !
O cabo ficou tão atrapalhado quando reconheceu o Major, que não sabia onde esconder a cara de tanta vergonha, foi aí que ele teve uma idéia. - Foi até a frente do carro, onde o rapaz continuava caído no calçamento e gritou:
“ Sai já daí seu “Cabra safado”, você ta querendo machucar o carro do Major Juvino ? ? ?