OI, GILDA, DANÇA PRA MIM!

OI, GILDA... DANÇA PRA MIM!

Um “causo” de uma das personagens de Campinas na década de 1940

17/11/2009

Pessoal

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OI, GILDA... DANÇA PRA MIM!

Deixei-me levar de volta aos anos 40/50 ao ler o livro de crônicas, Raízes Prudentinas, de Benjamim Resende. Ele escreve sobre personagens de sua terra, faz relatos dos acontecimentos políticos e do desenvolvimento da cidade. Conta "causos" e relembra personalidades que fizeram a história de Presidente Prudente.

Pretensiosamente, achei que podia contar alguns "causos" da minha cidade natal, Campinas. Algumas observações da criança e da adolescente, alguns fatos que marcaram a minha vivência numa cidade do interior - mas, nem tanto. O campineiro dizia, com muito orgulho, que a capital ficava pra lá, e apontava pra São Paulo, e o interior pra lá, e apontava para o lado oposto.

Mas, bairrismos e peculiaridades à parte, Campinas, como toda a cidade do interior‚ e a cada década, creio eu, foi marcada por tipos humanos muito interessantes. A pessoa a que vou me referir viveu muitos anos na cidade e fazia parte do folclore local juntamente com “Mané fala oh” e “Galileu é lobisomem mata homem, mas não come”.

“Gilda” era uma senhora cuja idade variava entre 40 e 50 anos, ─ talvez menos, levando-se em conta a vida descuidada que levava e também, levando-se em conta a visão, o sentido de proporção e da ética de uma adolescente nos anos 50. Essa senhora era branca e tinha os cabelos louros ondulados, oxigenados e soltos em cascata sobre os ombros, dois formidáveis olhos brilhantes e um indefectível vestido preto, cópia do vestido usado pela personagem Gilda, interpretada com brilhantismo e magnetismo pela lendária Rita Hayworth que, enquanto canta, numa boate, "Put the Blame on Mame", exibe um sorriso sexy, jogando seus lindos cabelos ondulados sobre o rosto e depois para trás, mostrando todo o seu glamour. Nessa cena famosa da dança sensual, a personagem usa um vestido preto colado ao corpo como uma segunda pele e luvas pretas de cano longo as quais vai retirando, sensualmente, enquanto canta. "Gilda" foi um dos mais famosos filmes do gênero realizados por Hollywood e bastante ousado para a censura dos anos 40 o filme é de 1946 precisamente. A personagem Gilda foi criada especialmente para Rita Hayworth. A atriz já era famosa, à época, pelos filmes musicais que estrelava. Antes de se tornar atriz, Rita Hayworth foi bailarina. Ela foi uma das partners de Fred Astaire, também um dos mais famosos bailarinos da época.

A “nossa” Gilda vivia desfilando na Praça da Matriz Nossa Senhora do Carmo, ora sentada nos bancos, ora andando pelas alamedas do jardim. Ela não pedia esmolas, mas as pessoas que transitavam pela praça e a conheciam davam-lhe sempre algum dinheiro, peças de roupas ou ainda bijuterias – ela adorava colares compridos até a cintura. A cada óbolo recebido ela agradecia com trejeitos “à la Gilda”, tirando e recolocando as luvas pretas de forma sensual e distribuindo sorrisos aos presentes na praça...

Por motivos que só Freud explica, essa mulher incorporou a personagem linda e sensual do filme e só atendia quando a chamavam: oi Gilda, Gilda, dança pra mim! Ela, então, se sentindo a própria, vestida a caráter e com uma pele de raposa envolvendo o pescoço, segurava delicadamente a pele em seu peito, revirava os olhos, mexia os quadris com muita graça, colocava um pesinho diante do outro e com os olhinhos brilhando na cara redonda, sorria maliciosamente em resposta ao apelo.

Era uma figura muito simpática!

Essa mulher conviveu com suas fantasias durante muitos anos, até que um dia ninguém mais a viu.

Esturato/09

Esturato
Enviado por Esturato em 17/11/2009
Código do texto: T1928908
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