A assombração
Em 1960, fomos contratados pelo antigo DNER, atual DENIT, para construirmos duas pontezinhas na BR-101 Sul – AL., trecho Maceió x Porto Real de Colégio. As pontes em questão era sobre os Rios Pirucaba e Piauí, distante 30 kms uma da outra. - Optei por montar o nosso acampamento no rio Pirucaba, junto a um vilarejo chamado Cana Brava, já bem próximo a cidade de Porto Real de Colégio – AL., as margens do São Francisco. As barracas era de madeira cobertas por lonas, durante o dia o calor era infernal, as noites piores ainda, chovia bastante e durante as noites a temperatura baixava chegando aos 13°, a frieza era tanta que, as lonas novas ficavam esticadas com um couro de bombo. Para suportar o frio, muitas vezes fazíamos pequenas fogueiras dentro do barraco para nos aquecer, aquilo era um verdadeiro inferno; sem se falar na grande quantidade de sapos e jias que procuravam abrigo nos barracos. - Todas as manhãs antes de calçar as minhas botas, tinha o cuidado de antes emborca-las, pois com toda certeza ali estavam alojados pelo menos uma meia dúzia de pequenos sapos em cada pé de bota. Tinha de tomar uma providencia, me mudando rapidamente dali. - Caí em campo e em pouco tempo estava residindo na casa paroquial, um casarão antigo de construção secular, muito bem cuidados pelas beatas do vilarejo, localizado junto a capela, cujo padre passava por aquele fim de mundo a cada seis meses. - Os moradores do lugar comentavam que aquela casa era mal-assombrada e evitavam passar por ali durante a noite. Nunca dei muita “bola”para aquele tipo de coisa, dormia ali tranquilamente, mas, por diversas vezes acordei a noite com ruídos estranhos no seu interior. Certa noite me levantei e com uma lanterna na mão, descobri que a causa dos estranhos ruídos, era dezenas de ratos brancos, destes utilizados em laboratórios como cobaias; consegui um pouco de veneno e o problema foi sanado.
Numa certa noite do mês de setembro, retornava da cidade de Penedo – AL., onde fora assistir um filme e aproveitara para fazer uma refeição mais decente, cheguei por volta das 01h30, era noite de lua cheia, estacionei o Jeep, junto a casa em baixo de uma frondosa jaqueira, em seguida me dirijo para o meu quarto, acendo o lampião e trato de trocar a roupa para dormir. - Após algum tempo depois de ter me deitado, passo a escutar passou no corredor, em direção a cozinha, eram passos como de uma pessoa idosa que caminhava arrastando os chinelos, me levanto, pego a lanterna, abro a porta do quarto e dirijo o foco de luz em direção a cozinha, não vi nada, mesmo procedimento faço em direção a sala de visitas, também nada, ali não tinha ninguém, volto a me deitar; cinco minutos depois novamente os passos no corredor, me levanto rapidamente e procedo como da vez anterior, e nada. . .torno a me deitar, quando já ia conciliando o sono, novamente os passos no corredor, desta vez fiquei apavorado, que diabo seria aquilo, mais uma vez me levanto, desta vez devagar para não fazer barulho, sem acender a lanterna, tateando no escuro, vou até uma velha cômoda onde sobre a mesma guardava uma espingarda 28, de dois canos, engatilho a arma, abro a porta vagarosamente, os passos continuavam em direção a cozinha, os pelos do meu braço estavam ouriçados, eu sentia um frio estranho, acho que era medo mesmo, tinha dificuldade de falar, mesmo assim gritei no escuro:
- Quem vem lá, pare, senão eu atiro !
Os passos continuavam ainda em direção a cozinha, mais uma vez passei a gritar;
- Quem vem lá. . .pare senão. . .
- TIBUMMMMMM
De tão nervoso que estava acionei sem querer os dois gatilhos da espingarda ao mesmo tempo, o efeito do disparo dos dois VELOX foi arrasador, a porta da cozinha foi acertada em cheio, um buraco de uns cinqüenta centímetros de diâmetro, deixava passar o clarão da lua. - Retorno ao meu quarto apanho a lanterna, o facho de luz com a fumaça azulada dos disparos cortava a escuridão, lembrando um canhão de luz, eu devia ter acertado alguma coisa, meu coração batia a mil por hora, eu estava realmente apavorado; os passos haviam silenciado, carrego novamente a espingarda e vasculho tudo e nada encontro, de tanto medo, minhas pernas quase não atendiam ao comando do celebro, quando me preparava para retornar ao quarto, novamente o barulho dos passos, agora bem perto de mim, me viro , dirigindo o foco de luz naquela direção e. . .vejo bem em minha frente a horrível assombração.
Um bruto de um sapo, (parecia um caminhão FNM) havia enfiado a cabeça num dos meus chinelos, jogados no corredor, como sapo não da “Ré” ficara entalado no chinelo, com as patas dianteiras e trazeiras fazia um movimento idêntico a um remador, a cada movimento arrastava o chinelo, daí o som dos tão tenebrosos passos. . .