Foto em Família
Desde que começara a trabalhar, após completar a sua maioridade que Justino se tornara mais um ‘peão de obras”. O moço era do município do Ingá - PB., e morava num sitio perto do vilarejo de Riachão do Bacamarte. Justino se encontrava desempregado, com os trocados que sobrara da sua última indenização, comprou uma passagem para o Rio de Janeiro, na esperança de conseguir um novo emprego. - Quando chegou ao Rio de Janeiro, da rodoviária, Justino foi diretamente para a Feira de São Cristovam, reduto de nordestinos naquele bairro carioca. Por intermédio de um amigo, no mesmo dia Justino consegue uma vaga de ajudante de pedreiro, numa construção de um edifício na Av. Barata Ribeiro, lá em Copacabana. - Na obra em que o Justino fora trabalhar, a “peãozada” semanalmente fazia uma “fezinha” na Mega Sena. Justino passou a fazer parte do “bolão” que a turma jogava todas as semanas. - Justino dera sorte, na segunda semana em que participara do “bolão” , o grupo acertou sozinho na Mega Sena. Naquele dia a “cana” comeu solta na Av. Barata Ribeiro, um prêmio de R$ 15.000,000,00 seria rateado entre 50 felizes acertadores, entre eles o Justino. Para cada um caberia a importância de R$ 300,000,00. O prêmio não era lá estas coisas, mas, para quem estava matando “cachorro a grito”, aquilo era uma fortuna. - No mesmo dia Justino vai até os Correios e passa um telegrama para casa dando a boa nova, em seguida vai até uma agencia bancária e transfere boa parte do prêmio, para que o seu pai comprasse algumas cabeças de gado e tudo mais que a família estivesse necessitando. - Justino em toda a sua vida nunca vira tanto dinheiro, deixou o emprego, foi morar numa pensão e passou a gozar a vida. - Quando não estava “farrando”, ia até a Rua da Alfândega no centro da cidade onde no “Saara” (local onde estão localizadas lojas de turcos, árabes e libaneses) passou a renovar o seu guarda-roupa, comprando tudo que tinha vontade, e nunca poderá comprar. O homem comprava de tudo, era botas de cowboy, óculos espelhados, chapéu Pananá, rádio toca fita (modelo maleta da cobra) e tudo mais que um “Pau-de-arara” bem sucedido trás do Rio de Janeiro. Depois de uma semana, vivendo no Rio como um “Marajá”, Justino passou outro telegrama para casa avisando que voltaria na noite da próxima quinta-feira, num ônibus da Itapemirim. - No telegrama Justino pedia ao pai, para organizar uma “buchada” para que fosse servida na sua chegada, como também recomendava ao pai para convidar toda a família, parentes e amigos. Ele desejava mesmo era uma festa de arromba. - No dia da sua partida, ainda na rodoviária do Rio de Janeiro, Justino comprou de um camelô uma moderna e sofisticada máquina fotográfica. Ele pretendia registrar aquele momento histórico da sua vida com muitas fotografias. - Dois dias depois, chega ao vilarejo do Riachão do Bacamarte, o novo rico da família. No meio da rua, em frete da agencia da Itapemirim, estava “preto” de gente, eram familiares, parentes amigos e até desconhecidos que estavam ali para conhecer o novo herói do vilarejo. - Quando o ômibus parou na frente da agencia, uma girândula de mais de cem foguetões foi soltada para saldar o novo rico, até um conjunto de forro e um carro de som montado numa velha “rural” foi contratado para abrilhantar os festejos. - Justino vestido como um verdadeiro cowboi americano, desce do ônibus com um bruto charuto entre os dentes, à tiracolo levava um toca-fitas, que a todo volume tocava uma música de Amado Batista,
Justino acompanhado pela multidão foi levado em passeata em direção ao sitio em que morava. - Antes dos comes e bebes, Justino retira da sua bagagem a tal máquina fotográfica que comprara na rodoviária do Rio. Como ninguém da família entendia de fotografias, era seu pensamento , antes de ficar “puxando fogo” tirar uma fotos da família e seus convidados. Justino sobe na porteira do curral e grita para o pessoal:
- ATENÇÃO, ATENÇÃO PESSOÁ ! Ajunta todo mundo na frente da casa, prá noí tira um retrato ! Ajunta tudo: Mulé Homé, Menino, Véi e os Bicho ! Quero tudo junto !
Foi aquele reboliço, todos procurando um melhor lugar para ficar, as mães ajeitava os cabelos dos meninos, os irmãos mais novos do Justino juntava os animais (Vaca, jumento, cabra, cavalo e galinhas) e até uma moto 125, para aquela fotografia histórica.. - Quando todos estavam em seus lugares, Justino pega a máquina fotográfica e afasta-se do grupo uns dez metros, colocando-a sobre uma pedra, ajusta o foco para ver se tudo estava nos conformes, dá uma olhadela no visor, em seguida liga o automático da máquina, e. . .
- ATENÇÃO PESSOÁ, NINGUÉM SE BULA ! ! ! Falou Justino, correndo em seguida para junto do grupo, para também sair na foto.
Quando o pai de Justino viu o filho correndo em direção ao grupo como um maluco, o velho arregala os olhos e grita para o pessoal
- CORRE GENTE que a bicha vai “papocar” ! ! !
Foi um Deus nos acuda, uma correria geral, era gente correndo em todas direções gritando apavorados. Até os animais que estavam ali para a foto, quando escutaram aquela barulhada, espantados partiram em desabalada carreira, dando coices e zurrando, atropelando que estivesse em sua frente. - Justino apavorado sem saber o que estava acontecendo, também correu junto a todos. Dizem que ele só foi alcançar o seu velho pai, já no meio da ladeira do Riachão, da BR-230 - PB., em direção a Campina Grande – PB. , e. . .
- PAI, prú que o senhô ta correndo home ? Perguntou
- Oxente, Justino, tu que é o dono daquele troço correu, quanto mai noí homé, que num sabe que “Gota Serena” era aquilo ! ! !
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A vontade de Justino de tirar um “Positivo” da família, acabou em “Negativo”