R I O     B O N I T O 
                                         
Numa travessia pelo tempo, com tempo de retroceder aos velhos decorridos dias, estampa-se em nós o PASSADO. Ao mais sensível, num gesto sutil, emocionante, carregado pelo vento do ontem, a brisa do hoje, lembrança viva da nossa terra, do nosso povo... Pois bem, outrora tudo verde na pastagem branda do VALE DA MATA, um meio ambiente invadido pelas cheias e vazantes do rio dos meandros, chamado RIO DA MATA. Capituvas vastas, cruzadas nas várzeas, no lodo habitado por cobras venenosas, rãs, cágados... Pássaros, então em enormes revoadas.
                                      
Todos tinham orgulho do imenso e carroçável RIO DA MATA. Um simples córrego também almejava beijar as águas ainda sem poluição e contaminação. Ir abraçar um gigante seria amparar um curso de vida num habitat natural, fluvial. Desejoso, simples, meio raso, estreito, entre margens de árvores frondosas, lá está o RIO BONITO. Ele vem do município de uma cidade vizinha ao oeste, Capituvaia. Desce mansamente, atravessando áreas rurais, sítios e fazendas de antigos proprietários. Diz os entendidos que ele na sua nascente, curto decurso é rasinho, com límpida areia fina, a caráter de uma natureza química, própria para rebocos de construções.
       
Altino, apelidado de TINO, ainda um menino, já sabia da existência desse pequeno rio. O seu pai comentava muito das espécies de peixes que ele abrigava; os característicos lambaris de vara curta, anzóis minúsculos, que fritos e torradinhos serviam de aperitivos, acompanhados das “batidas” de cachaça com limão e muito gelo. Que delícia deveria ser! Pela tradição, esse bonito riozinho, era considerado o ABC dos futuros pescadores de PROCOLÂNDIA (cidade que o RIO DA MATA cortava em toda sua extensão), mesmo aqueles que em dias futuros seriam amantes ou amadores da pesca. Os pais levavam os seus filhos homens, ainda na tenra idade para a iniciação do mundo da pesca ou mesmo da pescaria. Ensinavam a qualidade da vara de pescar, mesmo rústicas, naturais, resistentes, de bambu, específicas de pesca; também sobre a linha denominada de “indiana” que se prendiam os anzóis, até a isca viva da minhoca, buscada na própria margem do rio, em lugar bem úmido pela proximidade das águas correntes. Infelizmente ALTINO -TINO- não teve essa oportunidade, seu saudoso pai, nunca o levou para as aulas de pesca, porque os seus afazeres nos momentos de folga eram dedicados à pesca, mais voltada ao profissionalismo, desde aquela época já com sofisticadas armas de pesca. Logo, jamais deixaria do gigante RIO DA MATA para se dedicar algumas horas num minúsculo rio, junto do seu filho TINO. Esse aprendeu pescar, pouco mais tarde, convivendo com outros demais pescadores, à beira do rio, através de uma ativa observação, paralela ao seu próprio esforço.
                                                       
E, o riozinho RIO BONITO, era muito comentado! Ele também serviu de escola de natação. Era comum os meninos acompanhados por responsáveis adultos, debutarem os seus primeiros mergulhos e braçadas contra a correnteza. TINO aprendeu nadar, bebendo muita água nesse histórico riacho. Depois das aulas, junto com os seus coleguinhas vizinhos, iam fugidos de suas mães, sem medir os perigos e conseqüências. Houve, lá um dia, que a mãe de TINO percebeu! O sol estava escaldante por demais; TINO de pele muito clara “torrou”, voltou com o corpo visivelmente de quem estivera por longo espaço de tempo exposto ao sol e pele enrugada pela permanência dentro de muita água. Levou algumas chineladas! Sobretudo aprendeu nadar sem se aprimorar a um grande nadador, a exemplo de muitos outros dessa região ribeirinha. Certo dia, num dos mergulhos, bateu a testa num toco e ficou ferido. Por mais que TINO quisesse insistir, não deu para mentir: ser uma briga, pedrada... porque inocentemente e imaturo esqueceu que seu calção estava ensopado de água. Ficou terminantemente proibido e de castigo. Somente depois averiguou que sua mãe tinha muita razão, pelo apreço materno, quando por lá, nesse riozinho registravam constantes óbitos por afogamento de crianças, ocasionados pela imprudência e inexperiência, junto dos perigos entre as águas de um rio, por menor que ele pudesse ser. TINO foi perseguido, sondado por longas tardes até que aprendeu obedecer a sua progenitora.
            
RIO BONITO ainda vive, aliás, sobrevive com muita pobreza, dificuldade. Ele pobremente corre até sua foz no RIO DA MATA como seu principal afluente. Se antes era raso, hoje considerado uma “valeta”, a exemplo de uma enxurrada, mas a natureza não desiste, mesmo sabendo que continuará vítima do criminoso homem que devasta, invade, depreda o meio ambiente. Há quem hoje, ainda passe sobre a sua ponte, em direção aos muitos recantos da zona rural de PROCOLÂNDIA, para, viaja pelo tempo... deixa cair lágrimas sobre as suas águas, almejando que elas aumentem e que infelizmente secam no dia a dia. RIO BONITO, mais um córrego, nos dias de hoje ainda derrama suas humildes águas no RIO DA MATA, deixando lá no ontem um pedaço da sua história!
 
         
 CONTO DESCRITIVO-CAUSOS-
 PASSARELA DE CONTOS
 Autor do texto e ilustração-Foto-(RIO BONITO):
 Rodolfo Antonio de Gaspari


 
 
 


roangas
Enviado por roangas em 27/10/2009
Reeditado em 02/11/2009
Código do texto: T1889823
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