O Páu -de- Sebo
A capela da missão estava necessitando urgentemente de reforma. – O madeiramento da coberta totalmente bichado, o reboco das paredes largando os pedaços o piso cheio de buracos.
O missionário americano passava por aquele fim de mundo apenas uma vez a cada ano. - Para arrematar a população do vilarejo era mais pobre do que “rato de igreja”, não tendo condições financeiras para arcar com as despesas da reforma da capela.
Para que o impasse fosse revolvido, foi convocada uma reunião com todos os membros da comunidade. Quando todos estavam reunidos, começaram as sugestões a procura de uma forma de como angariar fundos para as reformas. Se pensou em tudo: bingos, rifas, leilões, venda de comidas etc. etc.
Foi aí que Julião, um vereador do vilarejo, talvez a pessoa mais esclarecida do lugar teve uma idéia:
- Mr. Paull, porque não bolamos um pau-de-sebo para se angariar fundos, bem como, contratar-mos um parque de diversão ? Assim a festa estaria completa !
- Ótima idéia ! Falou o missionário
- Para atrair a atenção dos rapazes, temos de estipular um prêmio que realmente chame a atenção daqueles que consigam subir no páu-de-sebo !
- E que prêmio seria este Mr. Julião ? Perguntou o missionário
- Que tal se colocar lá no alto do páu-de-sebo a sua filha como prêmio ? Com o prêmio o vencedor passaria uma noite da festa em companhia da moça !
- Sei não, Mr Julião, acho que esta sua idéia não vai dar certo !
- Não custa nada tentar, Mr. Paull !
Depois de muito relutar, o missionário terminou concordando com a idéia do Julião.
Terminada a reunião, uma comissão foi formada para cuidar da organização do evento. - Cada pessoa ficaria encarregada de uma tarefa.
Coube a Julião contratar o parque de diversão e bolar a idéia para a construção do pau-de-sebo. A primeira tarefa foi fácil. - Difícil mesmo para Julião foi conseguir a madeira para a confecção do páu-de-sebo. O vilarejo ficava no ‘Cariri” da Paraíba, (região seca e quase sem arvores), a existência de madeira por ali era quase remota, mas, aquilo não era problema para Julião. No mesmo dia ele pega o seu caminhão e manda um motorista até Campina Grande – PB. a procura da peça, na feira de madeiras da cidade.
No final da tarde o caminhão retorna trazendo a peça de madeira com mais de dez metros, “aprumada” como um cano de espingarda.
A tarefa de lixar a peça e construir a cadeira onde a moça ficaria sentada, ficou por conta do marceneiro do lugar. No final da tarde do dia seguinte, os serviços estavam concluídos, “Seu Loló” caprichou na confecção do páu-de-sebo, a peça ficou tão bem lixada, que, mesmo sem o sebo, era quase impossível alguém chegar lá no topo.
A filha do missionário era uma bela loira de uns 18 anos. Por ser americana, não falava português. - Mesmo sendo evangélica a moça era um tanto avançada para o gosto do pai. - No dia da festa fazia um calor de rachar no lugarejo, a garota resolveu vestir um biquíni. - O biquíni usado pela moça, já estava um tanto ultrapassado, era um modelo dos anos 40, muito usado pelas mulheres americana, mesmo nos dias atuais, mas, para a população do vilarejo, aquilo era um escândalo, uma moça de família usar uma coisa daquelas.
A notícia de que a filha do missionário estava vestida de biquíni, logo se espalhou pela redondeza - Vieram para a festa até rapazes de outras localidades .
No início da noite em torno do pau-de-sebo, estava “preto” de rapazes, cada um na intenção de ganhar o tão cobiçado prêmio.
Quando Julião viu o interesse da rapaziada em subir no páu-de-cebo, aumentou o preço dos inscrições de Cr$ 100,000,00 para Cr$ 500,000,00.
A “macacada” nem reclamou, foi organizada uma fila que se prolongava por mais de cem metros. Os primeiros lugares da fila foram disputados a preço de ouro, cada um que quisesse ser o primeiro a tentar.
A rapaziada fazia o possível para chegar lá em cima e ganhar o prêmio - Eles usavam todos os artifícios, era: areia, cinza, cera de abelha o “escanbau”, mas, ninguém conseguia chegar pelo menos na metade do páu-de-cebo.
Quando chegou a vez de Antônio dos Cocos ( o rapaz era chamado desta forma, porque, apanhava e comercializava cocos) o rapaz passou areia grossa nas pernas e nas mãos, iniciando a escalada. - Com a areia até que o pau-de-cebo ficou menos escorregadio, mas, em contra partida o corpo do rapaz ficou em carne viva, devido o atrito com a areia.
Depois de várias tentativas, finalmente “Tonho dos Cocos” conseguiu chegar ao topo do páu-de-sebo, onde lhe esperava a cobiçada prenda. - Num esforço de Hércules, nosso herói consegue pegar no pé da moça, lá em baixo a multidão vibrava com a vitória do rapaz. A moça para saldar a chegada do vencedor, dá um maravilhoso sorriso para o herói daquela maratona, e. . . em inglês fala:
- HELLOOOOO Boy ! Promúncia - RÊLLOOO Bói ! Tradução para o português - ALÓOOO Rapaz !
“Tonho” morto de felicidade por ter vencido a prova e doido para “pegar” a galega respondeu eufórico:
- RÊLO TUDIM GALEGA ! Mái nói vai desse jeito mermo, poí o principá ta inteiro. . .