Só Pensava Naquilo

Sé Pensava Naquilo

Raimundo era um fazendeiro da Zona da Mata de Pernambuco. - Sua fazenda de mais de 3.000 hectares, fora herança dos seus antepassados, tradicionais criadores de gado. - Em 1975, foi criado o Próalcool no Brasil. Logo no ano seguinte foram gastos bilhões de dólares em todo o Brasil na construção de novas usinas de açúcar e na implantação de milhões de hectares de novos canaviais. - Como uma verdadeira praga os novos canaviais se multiplicavam pelo nordeste como coêlhos. - Até antigos e tradicionais criadores de gado enveredaram por aquele caminho, vendendo os seus rebanhos, desmatando suas terras e partindo para a nova cultura. - Só Raimundo mantinha o firme propósito de ainda continuar como criador de gado. Ele sempre costumava dizer para o seu administrador:

- Enquanto eu for vivo, cana aqui não entra ! -

Quando chegou a época do corte da primeira safra, o lucro foi surpreendente, começaram a surgir os novos ricos, as cidades da Zona da Mata de Pernambuco, tornaram~se um novo El Dourado, nunca se viu tanto dinheiro naquela região. - Certo dia chega a casa do Raimundo um seu primo irmão, os dois ficaram na varanda da fazenda tomando uns drinques, enquanto o Carlinhos (primo do Raimundo) passa a falar sobre as vantagens da cultura da cana.. - Quando o primo do Raimundo foi embora, o homem estava quase resolvido a se tornar mais um plantador de cana. Naquela noite Raimundo quase não dormiu, passou a noite no escritório pensando na proposta do primo, quando o dia amanheceu, Raimundo estava resolvido, iria se transformar em mais um plantador de cana. - Sua primeira providencia foi telefonar para um frigorífico de Belo Jardim – PE. - No dia seguinte várias carretas transportaram todo o gado da sua fazenda. - Raimundo contratou vários tratores de esteira e iniciou o desmatamento da sua fazenda e o preparo do terreno para dar inicio aos novos canaviais. - Raimundo vai a cidade, e no Banco do Brasil, procura saber o que seria necessário para se fazer um empréstimo.. Naquela época obter um empréstimo no B.B. para plantar cana, era tão fácil, que, Raimundo se deu ao luxo de aceitar apenas metade do credito que lhe fora oferecido. - As coisas corriam as mil maravilhas , até o inverno daquele ano fora favorável. Se naquela zona um hectare de terra produzia quatro toneladas de cana, com o inverno e o adubo aplicado, passou a produzir mais de sete toneladas. - Raimundo ficou tão deslumbrado com a sua nova atividade, que, passou a gastar por conta. - Até os seus hábitos foram modificados, de “quintinho” (quintinho é um vasinhame de 200 ml, muito usado no nordeste) de aguardente que costumava tomar em sua casa, agora passou a tomar whisky, só que, de “Royal Salute” para cima. - Com a super safra, era tanta cana, que a oferta passou a ser mais que a procura, por este motivo o preço da tonelada de cana começou a despencar, chegando a um patamar que, uma tonelada vendida não dava para pagar a mão-de-obra dos “cambiteiros” (cortadores de cana), era preferível deixa-la no campo para apodrecer. - A cada dia que se passava o preço da cana caia mais, então, Raimundo passou a ver “almas”. - O homem já não dormia, deixou de comer e passara a beber mais que o normal, para esquecer os seus compromissos. - Carlinho o seu primo irmão, sabendo da sua situação, vai até a casa do Raimundo para lhe dar uma “força”. - Depois de muita conversa,

Carlinho terminou convencendo o primo a passar um final de semana no Recife, para se divertir, fazer uma farrinha e/ou até dar uma namoradela. - Depois que o primo o foi embora, Raimundo estava resolvido a passar o final de semana no Recife, ele chegou até a pensar com os seus botões:

- Cinco milhões de cruzeiros a mais ou a menos, não vai resolver mesmo aminha

situação! Eu vou mesmo é me divertir ! Pelo menos esqueço por uns dias esta

“droga” de cana !

Na tarde da sexta-feira, Raimundo pega a sua D-20 de duas cabines (naquela época D-20 era carro de novo rico) e se manda para o Recife, onde no Internacional Othon Palace Hotel, uma bela swite frente para o mar lhe aguardava. - Raimundo se organiza e quando ia deixando a swite para dar umas voltas pela orla, a cigarra da porta toca, ele vai abrir, e se depara com uma loura que era um monumento de mulher (a tal loura fora encaminhada pelo primo Carlinho). O casal deixa a swite e vai até o restaurante do hotel para jantar, lá para as tantas resolvem dar uma “esticadinha” até uma boite. - Durante o tempo em que estiveram na boite, tomaram muita champanhe francesa, dançar, só uma veizinha perdida, o assunto do Raimundo era um só: cana, cana e mais cana, se a moça que lhe acompanhava não fosse uma pessoa educada, com toda certeza teria mandado o Raimundo “pra aquele canto”. - Quatro horas da manhã, Raimundo resolveu retornar ao hotel, como haviam bebido acima do normal, ambos estavam com bastante sede, então, resolveram procurar uma sorveteria para tomarem uns sorvetes. Como não encontraram uma sorveteria aberta, resolveram ir até um posto de gasolina, lá encontrariam o que estavam procurando. - Só que na hora em que fizeram o pedido, o frentista do posto falou para o Raimundo:

- Olha ‘Doutor” o senhor nos desculpe, mas, só temos no momento picolé, serve?

- Me traga dois de mangaba ! Falou Raimundo

O casal senta numa das mesinhas e passam a chupar os picolés. – Enquanto a moça tomava o seu, Raimundo ficou pensativo e caladão (pensando nas suas canas) enquanto isso o picolé derretia na sua mão. - A moça acabara de tomar o seu picolé e vendo aquela situação, se aproxima do Raimundo, e. . .

- Posso chupar BEM ?

- OXENTE menina, ta ficando maluca ? São 3.000 hectares de cana,

galega ! ! !