O Vestibular
Quando a nossa faculdade de Direito da Universidade Regional do Nordeste, da cidade de Campina Grande foi fundada, a afluência de pessoas que já haviam deixado de estudar a mais de trinta anos, tentando um vestibular foi grande. - O que era de “Coroa” acalentava um sonho de um dia se tornar um “doutor”. - Me lembro como se fosse hoje, de um amigo que prefiro não identificar o nome, cujo sonho era se formar em direito para se tornar delegado de Campina Grande, mas, não é desse aspirante a delegado que pretendo falar e sim do meu querido amigo e compadre Venildo Pereira dos Santos, “Vendú” já falecido. - Quando “Vendú” soube da fundação da Faculdade de Direito, o homem endoidou, era só no que falava, a todo mundo que chegava ao seu armazém, “Vendú” (Vendú era estabelecido na Rua João Pessoa no ramo de parafusos) comentava que iria fazer o vestibular do curso de direito para se tornar um advogado. - De imediato matriculou-se num cursinho e todas as noites após o jantar, aquele homenzarrão munido de cadernos, livros e apostilhas debaixo do braço, numa euforia juvenil, antes de sair de casa, dizia para a mulher:
- D. ZULEICA, eu vou para a escola!
Aquilo era motivo de gozação para os seus filhos, mas, “Vendú” não estava nem aí, todas as noites estava firme lá no cursinho, recapitulando lições que aprendera no velho e tradicional Colégio Pio XI, ainda no tempo que o padre Odilon Galvão era o seu diretor. - “Vendú “ levava tão a sério a idéia, que chegou a contratar um professor particular para lhe ensinar matemática. - Finalmente chega o grande dia do vestibular, “Vendú” foi o primeiro a chegar no prédio da Escola Técnica Municipal, onde seriam realizadas as primeiras provas. - Eu pessoalmente era o seu grande incentivador. Naquela noite após as 21h00 eu já me encontrava no Cafezinho da São Braz, do Calçadão da Cardoso Vieira a espera do “Vendú”. Eu me encontrava ali para lhe dar força e saber o resultado das primeiras provas. - Exatamente as 22h00 “Vendú” chega ao Calçadão, o homem vinha eufórico, pelo seu semblante as provas daquela noite havia sido uma barbada, pelo jeito ele havia tirado de “letra”. Quando me viu foi logo gritando, e, . . .
- JOSÉ, já estou com um pé dentro da faculdade. -Vou ser doutor meu compadre !
No dia seguinte seria realizada a prova de língua estrangeira. Os candidatos teriam duas opções: Inglês ou Francês, “Vendú” nem pestanejou optou pela segunda.
Na noite seguinte, como na anterior, eu me encontrava no Calçadão desde às 20h30. Eu estava eufórico com o sucesso obtido pelo “Vendú” na primeira prova. Eu cheguei a entrar na Sorveteria Flórida para tomar umas doses de rum, ou melhor de “Cuba Libre” (como era chamado naquela época Rum com Coca Cola) só para comemorar.
Por volta das 22h00 chega do “Vendú”, mesmo de longe percebí que a prova daquela noite não havia sido uma das melhores. Aquela alegria do dia anterior, dava lugar a um ar de preocupação e tristeza, mesmo assim me aproximei dele, e,. .
- E aí campeão, como foi a prova?
- Uma MERDA José, uma grande MERDA !
- A prova foi mesmo do que, “Vendú” ?
- De francês, José. Mas acredite você, que da prova de hoje a única palavra em
francês que eu sabia escrever era BAYEUX. ! (Bayeux é uma cidade da Paraíba, vizinha a João Pessoa)
O sonho do nosso aspirante a advogado, ficou para outra oportunidade.