Primeiro Sermão

Maria Rosa ficara viúva ainda cedo. Fizera uma jura de nunca mais casar. Iria se dedicar à igreja e criar o seu filho único na esperança de quando adulto, torná-lo um padre.

Zé Roberto, filho da viúva, era um garoto estudioso e aos 16 anos terminara o curso científico. Com a ajuda do prefeito da cidade, Maria Rosa conseguira matricular o filho no seminário da capital.

Ao Cabo de quatro anos de estudo, Zé Roberto concluíra o seu curso no seminário. Agora iria estagiar em algumas paróquias até o dia da sua ordenação.

Dois anos após, finalmente Zé Roberto é ordenado padre. Agora fora indicado pelo Bispo Diocesano para trabalhar numa pequena paróquia do interior, cujo pároco iria se aposentar por tempo de serviço.

Padre Roberto chega à cidade e passa a morar na casa paroquial, juntamente com o padre João que iria se aposentar. Ficou acertado entre os dois que, o novo padre só celebraria a sua primeira missa, quinze dias após a sua chegada. Neste entre tempo ele iria se familiarizar com os afazeres e problemas da paróquia.

Geralmente após o jantar os dois ficavam sentados à mesa conversando. O padre João aproveitava aquelas prosas para passar para o "padeco" suas experiências de mais de sessenta anos como pároco da cidade de interior.

Certa noite, já estava bem próximo do dia em que o padre Roberto celebraria a sua primeira missa, então o padre João lhe recomenda:

- Roberto meu filho, eu acharia bom que você já fosse preparando o seu sermão da missa inaugural! O sucesso de um bom padre está no seu sermão. No dia você deverá estar tranquilo! Ser comunicativo e objetivo nas suas palavras, para que os paroquianos entendam os seus ensinamentos!

Quando o padre João foi dormir, Roberto de caderno e lápis na mão, passou a rascunhar o seu sermão. Duas horas da manhã o padre Roberto já havia rabiscado todas as folhas do caderno e nada, o sermão não saía. O "padeco" ficou apavorado, mas mesmo assim resolveu ir dormir. Amanhã seria outro dia e quem sabe se ele não escreveria um belo sermão.

No dia seguinte a primeira providência do padre Roberto foi de ir até uma bodega comprar dois cadernos, era o seu pensamento escrever e decorar um belo sermão. Conforme as palavras do padre João o seu destino estaria em jogo, ele teria de causar uma boa impressão aos seus paroquianos.

Naquele dia, parecia até que algum anjo lhe havia ajudado, o trabalho ficou pronto, agora era só decorá-lo. Padre Roberto era uma pessoa inteligente, acontece que estava totalmente nervoso, quando fechava o caderno, lhe dava um "branco" ele esquecia tudo que ali estava escrito. Aquilo passou a lhe preocupar. Naquela noite quase que não dormiu. A sua primeira missa estava marcada para as sete horas do dia seguinte.

No outro dia ainda escuro, ele passa a bater na porta do quarto do padre João, e...

- Padre João, oh padre João!

- Um minuto meu filho, já saio!

Alguns minutos após, padre João abre a porta do quarto, e...

- Pois não, meu filho!

- Padre João acho que não vou conseguir! Falou Roberto apavorado.

- Tenha calma meu filho, isto sempre acontece na primeira vez, você é um rapaz inteligente e vai conseguir!

- Eu acho que não padre!

- Olhe meu filho! Isto que vou lhe ensinar não é de praxe, mas como você está realmente muito nervoso, acredito até que Deus me perdoará!

- O que é que o senhor vai me ensinar padre? Perguntou padre Roberto, aflito.

- Tenha calma meu filho! Olhe, vá até a sacristia, lá você encontrará vários litros de vinho de missa, abra um dos litros e tome uma pequena dose! Lhe garanto que o seu nervosismo passará completamente!

Padre Roberto jamais na vida havia tomado uma dose de bebida, mesmo assim vai até a sacristia. Lá chegando, abre uma das garrafas e toma uma dose do vinho. Cinco minutos após, notou que estava completamente calmo, mas como garantia, resolveu tomar uma segunda dose e desta vez bem maior que a primeira. Deixou a sacristia se sentindo calmo e tranquilo. Até o seu sermão de repente lhe veio à mente.

Para maior brilhantismo da solenidade, o padre João resolveu ajudá-lo a celebrar a missa. Na hora do sermão padre Roberto vai até o púlpito e dá o seu recado como veterano. Os paroquianos gostaram do sermão, que fugindo à regra lhe aplaudiram de pé.

Terminada a missa, os dois vão até a sacristia para tirarem os paramentos, Roberto estava eufórico e pergunta ao padre João:

- Padre João, gostou do meu sermão?

- Foi lindo, foi magnífico meu filho, mas você não devia ter se empolgado tanto, ao ponto de mandar o "diabo" para a "Puta-que-pariu"!!!

Zé Uchôa
Enviado por Zé Uchôa em 02/09/2009
Reeditado em 02/09/2009
Código do texto: T1788651
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