“Jogador Francês”

No ano de 1964, ganhamos uma concorrência para a construção de uma ponte sobre o Rio Assú, na BR-304, trecho Natal x Mossoró. Como a obra ficava bem perto da cidade de Assú, aluguei na cidade uma casa antiga, mas, bem construída que serveria de escritório e alojamento para o nosso pessoal locado na obra. Semanalmente eu viajava à Assú em visitava a obra, numa destas minhas viagem, aconteceu um imprevisto na obra e tive de pernoitar na cidade. Eu fazia as minhas refeições num hotel da cidade chamado “Guanabara”, de propriedade de D. Júlia, uma senhora de uns 50 anos, viúva sem filhos. - O hotel não era lá um Cezar Park”, mas, eu adorava a comida, comidinha caseiras, de tirar o “Padre da Missa” - Depois de tomar banho, troco de roupa e me dirijo até o hotel para jantar. Quando entro no restaurante, uma coisa chamou a minha atenção, era a quantidade de gente sentado as mesas para jantar. - Chamei o garçon que sempre me atendia e perguntei o motivo de tanta gente no restaurante, ele me informou que aquele pessoal fazia parte do time de futebol da cidade, eles estavam ali reunidos para angariar dinheiro para pagar as despesas de um time de Natal que eles havia convidado para fazer uma partida amistosa com o time da cidade. Alguns instantes após a minha chegada, um grupo se dirige até a minha mesa, um rapaz com um livro na mão, se aproxima e me pede para eu fazer uma doação, atendi ao pedido e como retribuição ganhei um contive especial para assistir o jogo na tarde do domingo na tribuna de honra improvisada do estádio. - No dia do jogo o pequeno estádio da cidade se encontrava lotado. A grande maioria da platéia se acomodava de pé nas laterais do campo, já que não tinha arquibancadas para acomodar a multidão. Até uma Rádio de Natal foi convidada para transmitir a partida, entre o Assú Futebol Clube e o ABC de Natal. - As 15h00 em ponto o juiz da início a partida, debaixo de um sol de rachar de 40°. - Entre os jogadores do Assú havia um chamado “Dirran”, isso mesmo, DIRRAN nome francês que o locutor da partida fazia questão de fazer o biquinho ao pronuncia-lo; um garoto de uns 22 anos, torado no grosso, um galego “sarará” de cabelos vermelhos. - Dirran era o centro-avante do time, o cara era um craque com a bola, diblava, armava as jogadas, comandava os ataques e chutava constantemente ao gol, resumindo o cara era o “Pelé” do time. Era Dirran pegar na bola que a torcida se levantava gritando o seu nome. Para marca-lo o técnico adversário escalou quatro jogadores, e só conseguiam para-lo na base da porrada. - O locutor da Rádio Poty de Natal que foi escalado para transmitir a partida, encantou-se com a performance do Dirran, era Dirran pra cá, Dirran pra lá, pareceia que no campo só havia um jogador o DIRRAN. - Terminada a partida o Assú Futebol Clube perdeu do ABC de Natal por 3 x O, mas, a torcida do time nem se preocupou com a derrota, a grande estrela do time fora verdadeiramente o Dirran, que botou todo o time do ABC para dançar. - Durante a partida, Dirran aplicou inúmeros “Chapéus”, “Canetas” por entre as perna dos adversários, “Bicicletas”, chutou várias bolas na trave e até um gol lícito foi anulado pelo juiz que apitou a partida vindo de Natal. Verdadeiramente durante a partida o jogador Dirran pintou e bordou com todo o time adversário. O locutor da partida estava deslumbrado e gritava em altos brados que naquela partida havia nascido a maior revelação do futebol brasileiro e/ou, talvez do futebol mundial.

Quando os jogadores se preparavam para deixar o campo, o locutor da Rádio Poty de Natal, deixa a sua cabine improvisada entre em campo com imenso gravador “Moto Rádio” na mão para entrevistar a estrela do jogo, o jogador DIRRAN, correndo feito um maluco, atravessa o campo, finalmente se aproxima do Dirran, e,. . .

- Dirran, Dirran, por favor conceda uma entrevista para a Rádio Poty !

Dirran nunca tinha sido entrevistado, ficou até um pouco encabulado, mas, concordou.

O locutou aproximou-se e pergunta:

- Dirran, sua família ainda mora na França ?

- Não sinhô, minha famía mora num sitio aqui perto de Assú !

- E esse seu nome de descendência francesa ?

- Lá onde eu moro o povo me chama de “Cú de Rã” ! Mai o sinho sabe né, é proibido dizer nome feio na radia, por isso o povo abrevia e me chama de DE RÃ.

Zé Uchôa
Enviado por Zé Uchôa em 02/09/2009
Código do texto: T1788307
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