" Tripa e Bucho "
O que os olhos não vêem
...a boca não pode testemunhar...
Um cantador , varando o interior do Brasil , ganhando a vida com a vida dos seus versos e prosas estacionou em Pasárgadas ,
para almoçar e se possível, exibir-se com sua viola.
O lugar era conhecido pela inacessibilidade dos seus habitantes. Cheios de luxo, tomados de vã superioridade , orgulhosos, faziam pouco caso das pessoas matutas. Nada de hospitalidade da gente da terra , ao cantador e poeta. Se a hostlidade não fosse à pessoa , era pela sua arte e sorte.
No restaurante, servido o almoço , exclusivamente de tripa e bucho, o cantador não apreciando o prato pediu ovos, pão e frutas.
O dono do restaurante , um homem baixo e sêco, tanto no corpo como na conversa , disse :
__ "Nao temos pão , porque a padaria n ão está funcionando por falta de farinha e os dois estabelecimentos de secos e molhads só abriam à noite , quando os seus proprietários voltassem da roça. Frutas e verduras só no mercado, aos domingos, às quintas e nos dias que tinha missa". Virou as costas e sumiu . Bom , não era domingo e nem quinta -feira. O cantador arriscou a perguntar :
__ " E hoje tem missa "? E o dono do restaurante:
__ " Não senhor , não tem , porque não vai ter nem casamento e nem batizado. Só se morrer alguém, mas até agora, nada !!!
O poeta e cantador, desanimado com o restaurante, agradeceu e saiu à procura de alguma coisa que pudesse
matar a fome e que agradasse ao seu paladar. Caso contrário nada mais tinha a fazer. Passou pelo mercado e viu um grupo grande de pessoas ao redor
de uma pequena mesa, tôsca, forrada com folhas de bananeira e ,ao que parecia, ter alguma coisa a ser vendida. Aproximou-se com esperança , que logo se desvaneceu, quando leu num cartaz : SÓ VENDEMOS TRIPAS E BUCHOS. Quase desfaleceu... Desistiu . Ao sair do lugarejo , na cor branca de cal de uma parede , deixou escrito ,em grafite , o seu desabafo e a sua ironia :
Neste triste lugarejo,
Onde o povo quer ter luxo,
Em matéria de alimento
Só se encontra tripa e bucho.