"O VENTRÍLOQUO E O MENINO"
“O VENTRÍLOQUO E O MENINO”
Sabe como é esses pequenos Municípios quando recebem um entretenimento qualquer, ainda mais quando se trata de um pequeno circo, esses circos chamados de mambembe, por serem simples, quase paupérrimos. Tem o palhaço, o ventríloquo, alguns malabaristas e outras atrações de somenos importância.
Após terem montado a pequena e deficitária estrutura, que a rigor não ultrapassava dois dias de serviços, intensos, mas no máximo dois dias, isso vencido, até chegar o dia da estréia, os funcionários e patrões tinham um boa folga. O dono do circo, cujo nome era Marcondes, além de administrador, era também o ventríloquo, o palhaço e um dos malabaristas.
Decidiu ele que procuraria um velho amigo, sabia que residia naquela pequena cidade, apenas não tinha o endereço, somente o nome completo. Considerando que há muito não o encontrava, saiu a procura do mesmo, perguntando aqui e ali, a todos que passasse pelo seu caminho.
De longe avistou alguns meninos jogando uma “pelada”, mais grito, alvoroço e correria do que propriamente futebol. Aproximou-se e foi perguntando:
Aí meninada !!! Quem conhece um homem chamado de João Antunes, cujo apelido é Joca !! Alguém conhece ? – repetiu –
Os meninos, o olharam desconfiados, ficaram retraídos até que o visitante mostrou uma bela barra de chocolate.
Rapidamente um deles respondeu: Eu conheço !! Eu conheço !!!
Qual é teu nome ? - indagou Marcondes –
Luizinho. – respondeu o menino um tanto amedrontado –
Então sabes onde mora o Joca ?
Sei sim Senhor !!!
Podes me levar até a casa dele ?
Mas ele mora longe Senhor ! – observou o menino –
Eu te dou esta barra de chocolate, que achas ? Vamos lá ?!
Sim Senhor, vamos sim ! – Simultaneamente Luizinho foi passando a mão no chocolate e olhou para seus coleguinhas de futebol com cara de deboche, como quem diz, olha eu aqui com chocolate na mão !!! –
Foram indo estrada a fora, conversando e Marcondes foi aproveitando para contar histórias circenses.
Ao avistarem uma vaca à margem da estrada, pastando amarrada a uma corda, Marcondes lembrou-se das suas habilidades de ventríloquo, resolveu brincar com o menino.
Luizinho. – disse ele – Sabias que os animais falam ?
Falam nada seu Marcondes, o Senhor está enganado.
Falam sim. – afirmou o homem do circo – Quer ver ? Vamos nos aproximar dessa Vaca.
Olá Dona Vaca.
Olá Senhor. – respondeu o animal –
A Senhora conhece esse menino ? – indagou o visitante -
Ah se conheço !!! Esse menino é muito danado, tira meu leite todos os dias, coloca-me em lugares em que não há pasto, me deixa sem água, etc... – A Vaca arrasou a reputação de Luizinho –
Luizinho saiu dali impressionado, mas nada falou ou reclamou. – pensou consigo mesmo, é verdade mesmo, os animais falam -
Os dois a deixaram de lado e seguiram pelo caminho. Andaram mais um pouco e avistaram um cavalo, também estava amarrado a uma corda e pastava tranquilamente.
Marcondes se aproximou e disse: Como vai Senhor Cavalo ?
O Cavalo olhou o intruso com desconfiança, seguiu se alimentando.
O Senhor conhece esse menino ? – Marcondes fez a mesma pergunta que fizera à
Vaca.
Esse menino ??!! – Respondeu irritado o Cavalo – Esse menino aí, me dá muito trabalho, faz montaria em mim, me faz cavalgar o dia inteiro e não me alimenta. Esse menino é muito mau !! – O Cavalo usara tom de voz determinado –
Luizinho voltou a ficar impressionado, mas também nada comentou. Não tocou no assunto e foi apressando seu amigo Marcondes para partirem –
Seguiram andando e conversando....
Logo avistaram uma Cabrita, na mesma situação dos outros animais, amarrada e pastando solitária à beira da estrada.
Marcondes foi se aproximando do animal e Luizinho percebeu o perigo e lascou:
Seu Marcondes ?! – Não vamos falar com esse animal não, vamos seguir viagem. – disse o menino um pouco encabulado –
Mas porque Luizinho ?? – retorquiu Marcondes –
É que... É que... - gaguejou o menino – essa cabrita é muito mentirosa, inventa muita história...
Hummmm – resmungou Marcondes com cara de quem sabia do que se tratava -
René Cambraia