Meu coração comeu alguém
Maceió, 14 de maio de 2008.
Perdoe não ter escrito antes. É que eu não tinha ainda conseguido descolar da língua as palavras, ainda não tinha conseguido sintetizar nada.
Há um choro preso na minha garganta, unas lágrimas boiando nos meus olhos sem se atreverem a cair. É sempre assim, aquelas lágrimas sem motivo, alvo de tantas críticas.
Ninguém sabe mesmo o que eu quero, ninguém me entende mesmo, por culpa minha mesmo que não sei ser fácil de ler, nem de conviver.
Mas, eu não tenho culpa se o que sou cola na língua e não sai, eu não tenho culpa de não gostar da sua música, só da minha; eu não tenho culpa de falar só a minha língua e não a sua. Eu não tenho culpa de não ter língua materna, só esse dialeto antigo, que ninguém entende e nem sabe falar.
Nossa! Eu quero muito que você se realize! Pelas notícias que venho recebendo você está reagindo, tomando rumo na vida, querendo construir esses muros de arrimo que antes você não sabia como. Que bonito isso! Sinceramente, que lindo que você acordou esse lado prático que, durante anos e anos da minha vida, fui obrigada a lidar sem saber como e não me sai tão mal. Espero que você tenha sucesso! Juro que na festa da tua vitória estarei plenamente azul! Explodindo em fogos de artifício sinceros e azuis.
Mas, ainda há o choro na minha garganta e a vontade louca de não sentir essa prisão. Ah! essa prisão é tão dura! Tão Tão Tão.... nem sei te dizer. Só sei que quando penso nela as lágrimas caem finalmente, e me cegam de tantas que são.
Acho que é culpa desse meu coração selvagem, que foi aprisionado tão cedo...é certo que se tivessem deixado ele escapar ele teria comido alguém outra vez, atacado alguma aldeia novamente ou feito qualquer uma das atrocidades que fazia antes, nos tempos da aurora, na anima mundi.
Bem, espero que você me perdoe e fique bem.