Até que o Sol se apague

Há dias em que sinto que carrego o peso do mundo nas costas, mas nenhum fardo é tão pesado quanto o silêncio que habita entre nós. Você me engana. Não sei o motivo, não entendo as omissões, e mesmo assim insisto em acreditar que há uma explicação escondida nas sombras do seu medo — não do meu. Acredito, com uma fé quase ingênua, que a mentira não nasce apenas da fragilidade de um vínculo, mas de feridas antigas que você nem mesmo sabe nomear. E me pergunto: será que estou projetando em você a mesma culpa que carrego por Eduardo? Aquela que me persegue como um fantasma toda vez que abro Dostoievski e vejo, nas entrelinhas de suas páginas amareladas, o eco de uma vida que não consegui salvar?

Eu já impedi duas mortes. Dois corações que bateram mais forte porque estendi a mão. Mas Eduardo... Eduardo partiu sem que eu pudesse segurar seu pulso e dizer: "Fica". Agora, toda vez que olho para você, pergunto-me se estou tentando salvar alguém de novo — você, a mim mesmo, ou apenas alimentando a ilusão de que posso consertar o que quebrou dentro de mim quando ele se foi. Será que esse relacionamento é só mais uma trincheira onde me escondo da culpa? Ou será que, no fundo, eu só quero provar que o amor pode ser maior do que a mentira, maior do que a morte, maior do que todos os nossos demônios?

Você esconde sua verdadeira face, e eu me torturo pensando que talvez eu seja o monstro que te obriga a usar máscaras. Será que sou tão difícil de amar assim? Tão assustador? Ou será que você, como eu, tem medo de que o amor verdadeiro exija demais — uma entrega total, uma nudez da alma que nem sempre estamos prontos para vestir? Eu só quero segurança. Só quero saber que posso fechar os olhos sem que suas palavras virem labirintos. Só quero acreditar que, mesmo com todos os nossos erros, podemos ser um porto um para o outro, não um campo de batalha.

Você machucou meu ego, eu invadi seu tempo, bagunçamos nossas vidas como crianças desesperadas por atenção. E ainda assim, não me arrependo. Porque há uma beleza caótica em como rimos juntos, em como as horas voam quando você está por perto, em como até os nossos conflitos parecem cores vivas em um quadro que pintamos sem saber direito o que estávamos criando. Você não é minha família, não é meu amigo — é algo mais complexo, mais selvagem, mais nosso. Algo que não cabe em rótulos, mas que habita aquele lugar entre o sonho e a vigília, onde o amor e a dor se misturam sem pedir licença.

Quero estar no seu velório. Quero que você esteja no meu. É uma declaração macabra, eu sei, mas é a única forma que encontro de dizer: "Não quero desistir de você, mesmo que a vida nos force a isso". Porque o que sinto não é amor — amor exige que eu me ame primeiro, e eu ainda estou aprendendo a não me ver como um estranho no espelho. É algo mais cru, mais urgente: é vontade de atravessar tempestades de mãos dadas, mesmo sabendo que podemos nos afogar. É a coragem de dizer: "Mentiu, mas eu ainda estou aqui. Machucou, mas eu ainda escolho ficar".

Não peço perfeição. Peço apenas que você me deixe entrar nos cômodos escuros do seu coração, aqueles que até seus amigos e família não conhecem. Peço que não transforme suas mentiras em armadilhas, mas em pontes. Porque cuidar de alguém não é esconder a verdade sob um cobertor de boas intenções — é encarar a infecção de frente, mesmo que precise de uma faca para drenar o pus. Estou aqui, oferecendo minha própria carne como curativo, sabendo que pode doer, sabendo que podemos sangrar.

Talvez sejamos como duas estrelas em colisão: o impacto vai nos despedaçar, mas quem sabe, nos escombros, nasça uma nova constelação? Ou talvez sejamos como o sol — destinados a nos apagar um dia, mas que, até lá, insistimos em brilhar com toda a nossa intensidade, mesmo que ninguém saiba por quanto tempo ainda teremos luz.

Eduardo não está mais aqui para me responder, mas você está. E eu preciso que você me diga, mesmo que a voz trema: O que somos? Não precisamos de um "para sempre", só de um "enquanto durar" que valha a pena. Um "enquanto durar" onde possamos errar sem medo, chorar sem vergonha, e rir como se o fim do mundo não importasse.

Então vamos combinar uma coisa: se um dia o sol morrer, que seja depois de nós. E se não for possível, que pelo menos tenhamos a coragem de queimar juntos até o último segundo.

Eu não te amo.

Ainda não.

Mas gosto tanto de você que estou disposto a aprender a me amar só para um dia poder dizer que sim.

Mamoro Yanagiya
Enviado por Mamoro Yanagiya em 11/04/2025
Código do texto: T8307191
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