Carta de confissão a um ex amor

Meu saudoso ex amor,

Quem sabe um dia eu te conte o quanto gostei de ti - essa carta é uma forma de dizer, eu acho.

E o quanto eu gostaria que tu tivesse ficado.

Quem sabe um dia eu tenha coragem de te entregar esse papel e tu saiba o quão profundo foi e é o meu amor por ti.

Quem sabe um dia a gente se esbarre por uma cidade aleatória, uma daquelas que a gente sempre dizia que iríamos conhecer juntos, mas que hoje não faz mais nenhum sentido. E aí eu te digo como fiquei frustrada pelo modo covarde como tu saiu da minha vida sem qualquer explicação ou palavra de despedida. Eu te odiei por semanas inteiras após a tua partida. Porém, agora a minha raiva está mais abrandada e eu arrisco a dizer que te entendo e te perdoo. De certa forma eu sei porquê partiu. Mas não quer dizer que entendo totalmente. Preciso ainda de uma justificativa bem convincente.

Talvez eu te conte que o Djavan tem estado silencioso desde então, e que eu deletei as playlist que criamos juntos. Eu troquei a senha do streaming e deletei a tua conta com medo da netflix te recomendar para mim. Eu tirei as fotografias dos porta retratos e troquei os lençois da casa. Eu pintei as paredes do meu quarto porque a cor foi tu quem escolheu e não suportei mais olhar para ela. Eu doei os teus livros que ficaram aqui, porque eles ecoavam a tua doce voz. Troquei o percurso que fazia para ir ao trabalho e não vou mais a cafeteria aqui da esquina, porque a moça do balcão por duas vezes perguntou por ti quando eu fui comprar o café descafeinado com leite de amêndoas - que não tomo mais também.

Quem sabe um dia a gente se esbarre na fila do show de Caetano e Bethânia e eu te digo que a única memória que tenho de nós dois é daquele hotel que fomos no fim de semana e a viagem foi um completo desastre, mas a gente nunca se divertiu tanto na vida como naqueles dias. Tu sempre fazia uma piada com referências que só eu entendia. Enfim, as fotos foram apagadas, teu número de telefone deletado, as conversas arquivadas e que seguir em frente não foi escolha minha. Foi tua.

(Tu ao menos olhou para trás quando me deixou?).

Quem sabe a gente se esbarre na fila do supermercado e eu te conte do sonho que tive contigo. Foi um sonho tão real. A gente estava na praia, caminhando pela areia, molhando os pés na água, de mãos dadas. Tu me olhava como se só existisse eu no mundo. Um olhar que aquecia e me fazia feliz. Me deu um beijo suave. Acordei sorrindo nesse dia. Pena que não estava ao meu lado na cama.

Quem sabe um dia a gente se esbarre e eu te fale que azul sempre será a tua cor, porque acentua o negro dos teus olhos, mesmo que isso não faça nenhum sentido, como tu nunca fez nenhum sentido para mim. Será se eu fiz algum sentido para ti?

Às vezes eu queria te encontrar para gritar contigo por toda dor que me causou. Sobre como tu quebrou o meu coração em pedacinhos tão pequenos e afiados que eu me cortei tentando me juntar e me fazer inteira de novo. Sobre como eu sinto tua falta todo dia desde o momento em que abro os olhos pela manhã. Sobre como eu passei a detestar desenhar porque sempre faço um esboço teu. Sobre como a gente deu tão errado e como mesmo assim eu te escolhi e te escolheria por anos, mesmo sabendo o dim da nossa história. Eu só queria que tu tivesse a coragem de ter me escolhido também.

Quem sabe um dia tudo isso tenha algum significado e a gente perceba que não tenha sido em vão o nosso encontro. O destino não ia brincar assim com as nossas vidas, se não houvesse algo a mais. A nossa curta história teve um propósito. Eu preciso acreditar nisso, pois sem isso, nada faria sentido. Eu sei que os breves momentos que tivemos foram verdadeiros e que a vontade de permanecer nada mais era que amor.

Quem sabe um dia a gente se esbarre e eu te conte que ainda te amo.

Quem sabe um dia.

Até lá, me deixe ser uma bonita lembrança tua.

Da ainda tua,

L.B.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 09/07/2024
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