Digitais
Querida C.,
Como será quando acordarmos de tudo isso? Como será?
Sophie dizia, por inúmeras vezes, que a paixão era pela ideia. Apenas uma ideia. Essas palavras, desde então, circundam minha cabeça, corroem o meu cérebro. O que haverá por trás da cortina?
Pujantemente sinto uma pressão no peito, como uma chaleira de água fervente desejando, como um saco de ossos, que me arraste para casa. Para sua casa. Afinal, todos precisam de uma âncora, de um território seu.
Você está sempre na hora certa. Parece, no meio da luz amarela, uma visão cinematográfica. Uma enigmática visão. Isso queima tanto, o desejo sobe as paredes e cobre-se como lençóis. Isso é só uma ideia? Isso me faz chorar embriagada numa mentira melodramática, enquanto fico imaginando minhas digitais sobre a sua pele. Uma ideia com pernas, braços, lábios...
O vulcão que você tanto alimentou está adormecido, mas tenho medo do seu despertar. Tenho medo do caos que, mais uma vez, poderá causar. Tenho medo da destruição que poderá causar. Das ruínas que poderá ficar.
Minha cabeça não consegue parar, não há som nesta sala fria, não há voz para confrontá-la e eu rastejo até sua mente, me perdendo mais uma vez naquela ideia. Na sua ideia.
From my darkness, D.