Des jours à Port-au-Prince - Um fanfarrão

Hotel Villa Saint Louis - 28/01/1997.

Depois do trabalho, fui ao bar do hotel. Conheci um americano há alguns dias. Ele estava lá, com o dono do hotel (M. St. Louis)) e um outro americano. O cara trabalha no porto de Port-au-Prince e conhece quase o mundo todo. Quando os outros dois saíram, começou a contar-me suas histórias. Entre outras, em 73, foi preso no Rio, suspeito de roubar segredos militares. Era representante da Rolls Royce. Outra: em Porto Príncipe, em 78, foi sobrevoar a baía, juntamente com U Thant, Secretário-Geral da ONU, e quase morreram metralhados pela polícia de Duvalier. Muitas histórias.

Estou bebendo o rum Barbancourt, com Pepsi-Cola. Na TV, mais um filme americano dublado em inglês (???), minha diversão rotineira dessas noites solitárias no Haiti. Mas estou mais confortável que em Assunção.

30/01/1997

Fomos ao aeroporto receber um político do PT. Creio que tem um cargo de direção. O Embaixador A. R. (capítulo à parte) e o Zé Carlos, funcionário do quadro, aqui há 4 anos, e eu chegamos em cima da hora. O Marco Aurélio, esqueci o sobrenome, é professor da Unicamp e tem um cargo na executiva nacional do PT. Muito simpático e agradável. Levamo-lo ao Hotel Holliday Inn, no centro de Porto Príncipe. Esperamos ele trocar de roupa, levamo-lo também à casa de um político do Lavalas, partido situacionista, que está organizando um congresso. Há estrangeiros de todos os lados e o Prof. Marco Aurélio é um dos convidados.

A principal imagem do dia é o avião da Air France, enorme, taxiando no aeroporto. Não estou isolado. Um dia, pego um avião e vou-me embora. Há esperança. Mas já não acho tão ruim.

O Embaixador já quer que eu fique aqui mais 3 meses. quer que eu fique como "leitor" de Português na Universidade. Pode dar mais de 1.000 dólares por mês. Mas é incerto.

O Embaixador A. R. é escritor. Pessoa fantástica, curte a vida, alegre, não para de falar. Sabe de tudo, tem memória. Só é meio desorganizado para trabalhar. Quer ir para New Delhi. Leva-me a mim e ao Zé Carlos, diz ele.

PAP, 28/02/1997

Um momento de nostalgia, passou na TV a final da Copa de 70. Transmitido em crioulo (créole).

Último dia de fevereiro. É inverno caribenho. As crianças vão e voltam da escola, têm uniforme, têm mochilas, fazem algazarra como em qualquer lugar. As pessoas vendem coisas na rua, se viram como podem, sempre há gente parada nas esquinas, vendendo desde carvão até chicletes, espaguete e bananas, homens consertam carros nas esquinas, uma atividade constante, mesmo quando o sol se esconde e a noite chega sem que haja luz nas ruas. Isso é interessante.

Quando saio do trabalho, geralmente já escureceu. Não há iluminação nas ruas e as pessoas caminham normalmente, você encontra com gente na rua a todo instante. E o incrível: tem sempre um grupinho jogando cartas, sentados no chão ou acocorados no canto dos muros, iluminados por isqueiros ou lamparina. Aquele grupinho ali não significa o que significaria no Brasil, eles nem se dão conta de que alguém está passando.

William Santiago
Enviado por William Santiago em 21/12/2022
Reeditado em 29/01/2023
Código do texto: T7676588
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