CARTA AO MEU PAI

Jaru, 26 de novembro de 2007

PAI estás no plano espiritual

Escrevo-te estas linhas para dizer-te que as coisas por aqui vão de mal a pior. Os teus ensinamentos foram de água abaixo, o que tu pregavas : o amor, a fraternidade a concórdia, o entendimento, a cooperação e sobretudo a solidariedade e o aconchego familiar desapareceram. Irmãos desconhecem irmãos, irmãos não tem tempo para irmãos, irmãos não visitam irmãos, a prioridade maior pai é para os “amigos”, muitos desconhecidos da maioria da família que aqui deixaste.

Estou doente a meses e ninguém veio sequer me visitar e saber o que eu estou passando e combalido por patologias que já sei do diagnostico, a principal ainda não foi descoberta. Já sei que tenho que operar de pedra na vesícula e estou me tratando de depressão deprimida grau IV e tentando descobrir esta fraqueza imensa que tenho e não consigo, mesmo sendo da área de saúde não descobrir o que realmente tenho.

Talvez meus irmãos não me visitam porque estou passando por uma grave crise financeira, diferente de quando partiste daqui, onde eu tinha um patrimônio bom e nunca deixei ninguém na mão em nenhum momento. Estou sem dinheiro, sem crédito, sem prestígio torturado pela neurose e somente encontro barreiras para falar com eles tendo muitas vezes a me socorrer a estranhos para chegar até os magnatas; muito diferente do que pregamos ao longo de tantos anos a UNIÃO.

Vivo hoje aquartelado naquela pequena casa fruto do teu espólio, já nem me lembro mais de quando recebi a visita de um irmão. Estou doente ,mais me tratam com hostilidade como se eu fosse um leproso da família. Esqueceram de nossas lutas para chegarem onde chegaram. Não recebo sequer uma palavra de conforto e quando prometem por telefone quando as vezes conversamos se arrependem para dar prioridade aos aminimigos deles.; apenas fico sabendo pelos outros.

A simbiose familiar que pregaste tanto não existe mais, somente pensam no individual, no poder monetário, no egoísmo, no luxo, na indiferença, pautando, assim, pela avenida larga da vaidade esquecendo-se da semente que virou arvore frondosa e hoje existe somente de fachada para aquele que nos vê ainda como um todo unido. Dias atrás um dos gerente de conta do Banco do Brasil me indagou “Dr você vive extremamente apertado e vejo seus irmãos com tanto crédito, e tanta posses eles não lhe ajudam?” respondi que já houve tempos que era o contrário; era eles que precisavam de mim, deixo agora a mercê da consciência deles.

Sei que errei, mas procurando sempre acertar. Hoje humilhado vivo de reflexões lembrando dos teus ensinamento tentando encontrar uma saída e não encontro. Estou no fundo do poço mas niguém me socorre e me dar pelo menos uma corda para que eu possa sair. A família que plantaste não existe mais. Porém tenho certeza que se estivesses aqui jamais me abandonarias nem deixava acontecer o que ocorre hoje

Já não tenho mais nada, vendi tudo para honrar os meus compromissos e mesmo assim continuo devendo sem poder pagar, coloquei a venda a minha única casa, mas já sem forças de ajuda deles para que eu possa levar a termo, ninguém se prontifica pra ajudar em nada e nenhum momento, não sei mais o que fazer.

Estou numa situação de desespero e não sei se suportarei esta carga, não vejo nenhuma luz no fim do túneo, hoje sou considerado por eles um lixo humano, já não valho mais nada e já senti que o que eles querem é que eu saia do meio deles. Minha grande vontade é de ir te encontrar onde estiveres e estou encurralado sem ver outra saída e se assim continuar deixo tudo pra trás até mesmo a responsabilidade que tenho para com a educação dos meus filhos.

Sabes que não sou de chantagear, sempre agi de acordo com meus pricípios Estou no aguardo das últimas horas, o dia mal já perdura por 6 anos 10 meses e 26 dias e não passa e nem diminui, já esperei demais e os tempos de tribulações não passam, mais fique certo pai, se realmente eu for ao teu encontro não irei sozinho levarei toda historia e quem sabe nós dois reverteremos esta situação.

Peço a sua bênção meu velho pai

Do filho que não te esquece

José Salomão