Corpo
Não aguento mais fumar tabaco úmido. Tem quatro dias que o céu chora. Deve estar com pena de mim, cyborgue úmido e mal amado.
Meu telhado está caindo, as quarenta goteiras viraram cinquenta que viraram quase que uma única gigante destroçada, um buraco no céu da minha humilde inconsistência que insiste em gritar num espaço descolado da realidade.
O céu da minha boca queima no fundo do inferno congelante.
Tabaco úmido entra fervendo. Difícil diluir essa gastura da vida. Tenho tantos amores, não gosto de nenhum.
A cidade está interditada. Assisto coisas absurdas sobre anjos diabólicos e demônios alucinados procurando algum tipo de paz, corpos dissidentes e toda essa coisa paradoxal de inferno celestial. Não sei se me identifico ou se me torno insurgente.
Acho que preciso de algo mais leve, mas até mesmo a leveza se torna pesada. Maldita mania de dissecar ossos e voltar pras carniças. Algo de humano ainda respira, afinal, me rebelo contra as máquinas celibatárias. Ainda sinto. Ainda quero sentir.