Flores do meu outono

Livros tenho-os com fartura. Todos os gêneros, leio compulsivamente .Faço um dicionário na ultima folha e não me furto comentar o que achei, fazer ponderações, sugestões que logicamente ficarão ali registradas, posto que meus livros são emprestáveis. Interajo com eles, peço permissão para usar seus cantinhos de página para salientar o que me calou mais fundo, grifar frases que gostaria fossem minhas e assim, o livro passa a ser propriedade particular que irá para a coleção dos já lidos e se tornam meus companheiros íntimos da noite. Para o dia, leiob outro livro; novo tema, novos personagens que não se conhecem, almoçam comigo mas não sei porque sempre me apego àquele que me embala até a madrugada. Noite dessas, em devaneio, pincei uma afirmação de Gandhi onde ele filosofou dizendo assim: " eu nunca acreditei que a sobrevivência fosse um valor último. A vida, para ser bela, deve estar cercada de vontade de bondade e de liberdade." Fiquei a pensar, hoje aos 85 anos, como poderia analisar esta beleza. Vontade eu sempre tive e consegui muitas vezes impulsioná-la à concretude. Bondade, acho que é o que nos liga à eternidade. Liberdade, não sei definir mas penso que seja como a sensação de quem se propõe fazer uma escalada, e depois de muito caminhar montanha acima olha ao seu redor, extasia-se com a plenitude, sente então a Liberdade.

Em todos os livros que leio, nacionais ou não sinto a busca pela liberdade principalmente dos autores mais experientes. Gosto deles, me identifico com seu linguajar expondo sua forma de pensar e de tentar fingir que o tripé que sustenta a vida ja foi atingido.

Pois é. Em busca de antigos sabores literários me deparei noite dessas com a caixa onde guardo minhas cartas de amor escritas em 1957. Perfeitamente preservadas ainda guardam o cheiro da espera de todas as manhãs pelo carteiro com sua mochila ás costas. As casas antigas tinham alpendres, ladrilhados com relíquias portuguesas, bancos e cadeira para ler jornais e outras correspondências o que era feito com muito amor e saudades .

Li e reli todas elas com lágrimas quentes nos olhos e saudade imensa na alma. Meditei e conclui que o céu deveria ter "horário de visita" para nos encontrarmos com os nossos entes que se anteciparam à nossa ida. Onde está a vida que perdemos no viver?

O eterno retorno das estações, o brilhar morno das estrelas, o azul sempre celeste, o outono que faz tapetes de folhas vermelhas pelo chão, plátanos perfumados com o perfume do antigo carteiro.

Socorro! Alguém pode trazer um alento para esta "Flor do Outono?"