Carta à esperança
Esta carta é destinada a esperança, a fé no futuro (naquilo que um dia trará a resolução para nossa angústia existencial), em um ser metafísico (que consiga justificar-se ao ponto de me convencer que não é ontologicamente mau), ao amor (aquela que se mostrará não produto de uma idealização, um apoio imaginário para a queda no abismo ser esquecida, aquela que me fará evidente, racionalmente ou não, que o irredutível aponta para o transcendente filosófico ou metafísico, ou que faça o além do homem não ser absurdum) e também para todos aqueles que ousarem se identificar, mas se o é de fato, é como um câncer, o pecado da razão esta para além da maçã de Newton, então, sintam-se a vontade pobres miseráveis que partilham o mesmo sofrimento; Eu apenas escrevo esta carta porque estou sofrendo, na verdade, sofro há anos, a partir de minha consciência se fazer tal e a tal ponto de questionar sua substância, o seu ser, ou se é apenas produto de uma complexa circuitaria neural como pensam os materialistas ou até mesmo se esta discussão não vale a pena e o fenômeno deve ser visto por si, influenciados pelo humanismo e pelo assombro do devir como pensa a fenomenologia; Não sei ao certo quando esta angústia começou a me consumir, acredito que a partir dos 13 anos, sendo que aos quatorze já tentava tirar do meu dia aprendizagem, sintetizava-o e escrevia uma máxima, mas onde estão estes escritos? Perdidos na mão de um outro qualquer, se não apagados os blocos de notas (a contingência já se fazia vista), e pergunto-me, há alguma importância inerente a alguma coisa? Digo, se o sujeito não o toca, o que há para além de indeterminação e crenças se e somente se desejos? Podes falar ego, no importa como habla, se queres limitar-se a uma conceituação que o faças, só não ouse alegar saber e não me venha apregoar sistemas, não sou obrigado a tolerar covardes medíocres, idiotas! Não, não os culpo do meu sofrimento, de minha solidão, a mim e a ninguém, nem ao mundo, nem aos deuses, o mundo, ah pobre natureza que tolera macacos tolos, mate-os e acabe com esta peça enfadonha ou deveria tolerar mais um segundo desta miserável existência? Que absurdo, viver é o maior dos absurdos e a mais tenra loucura, que nos escondem de nós mesmos, pondo embaixo das pedras o real que nos espanta e nos consome, como fogo por dentro; Não, não penso em por fim a nada disso, só não me importo se o fosse cedo (cedo?), qual o referencial, ou melhor, qual o referencial que se sustenta ad infinitum? Pois vos digo, este é pois a veritas, ou seria, pois não temos. Ao escrever percebo o quão esdrúxulo tem sido minha vida e percebo uma constante, o olhar a que despejo nos outros desde a infância, uma indiferença profunda que assusta o mais sábio dos homens e o leva a si perguntar, de onde surge tal reflexo? Abismo que me chama... Estes olhos, estes, não, não os olharei, negarei, forclusão... Ao meu lado Tolstói, Santo Agostinho, Kafka, Machado de Assis, Álvaro de Campos e Homero, ah Homero, como queria tal versos heroicos, como queria possuir uma jornada, Épica! Um soldado caminhando até a morte, mas eu penso e ao escrever esta carta através de bits que se dar através de um sim ou não, passou ou não corrente, que em um complexo arranjo, combinações, logaritmos fazem-se não mistério e nos esconde do que realmente importa, nos ludibria com um pequeníssimo saber, um recorte, pergunto-te, que é a vida? E ao perguntar isto a vida escuto apenas murmúrios, gritos, exaltações de um eu, que não se faz ver, caindo no abismo, frágil, e tudo isto entra em dissonância, torre de babel... Nesta queda livre até o nada flores se despedaçam, trogloditas, e eu o pior dos vermes, aquele que sabe o que não é e ao caminhar até a morte sofre e enquanto sofre conclui apenas que não é, vos digo, este cai em silêncio e o nada o recebe com alegria e ele... nada...