Meu suicidio
[TRIGGER WARNING] Atenção! O texto abaixo contém conteúdo sensível sobre suicídio. Leia por sua conta e risco.
O objetivo não é influenciar o suicídio de maneira nenhuma, apenas manter meus pensamentos mais obscuros registrados.
Eu me lembro que foi em uma manhã. Eu saí do curso carregando comigo um grande fardo. O conteúdo desse fardo? Algumas coisas como depressão, ansiedade, desânimo, medo e coragem.
Eu sempre gostei de facas, e eu sempre levava uma na minha bolsa. Eu desci a rua até chegar na estação de trem. Eu já estava próximo do centro da cidade.
Caminhei pelo trilho principal até chegar em um lugar mais isolado. Mato, pedras com musgo e árvores decoravam o cenário urbano.
Eu não queria morrer, mas eu não aguentava mais nem um minuto vivo nesta porra de lugar; toda a esperança havia morrido.
Motivos? Eu tinha de sobra.
Mas acima de tudo, a porcaria da vida era minha e eu fazia o que eu queria com ela.
Eu não estava nem aí para o que as pessoas próximas à mim iriam sentir se eu morresse, já que eu infelizmente cheguei em um nível onde isso (assim como muitas outras coisas) já não tinha mais importância.
Eram onze e quarenta e cinco da manhã, estava frio e não havia ninguém próximo, só dava para ouvir alguns poucos carros passando de longe.
Caminhei até embaixo de uma árvore. Sentei lá e comecei a pensar intensamente na insanidade que eu estava prestes a fazer.
Comecei a pensar no que existia após a morte, no impacto que isso causaria, qual dor eu sentiria.
Talvez no fundo eu ainda me importasse.
Comecei a chorar; as lágrimas escorriam pelo meu rosto.
Eu era um garoto tímido e meio quieto, mas a minha mente era muito barulhenta.
Abri a minha bolsa, peguei a faca e respirei fundo.
Olhei ao redor.
Só eu e minha depressão.
Será que existe vida após a morte? Bem, eu já estava morto por dentro, agora eu iria acabar com qualquer sinal de vida por fora.
Puxei a manga da jaqueta para trás, fechei os olhos.
Respirei fundo.
Tive medo, pensei seriamente em desistir.
Cheguei a abaixar a faca.
Eu estava confuso, perdido, com medo.
Mas em um ato de desespero, eu enfiei a faca dentro do meu punho.
Eu senti uma dor aguda, uma dor imensa, uma dor inexplicável.
Palavras são insuficientes para descrever.
Mas aquilo não era pior do que a dor sentimental que eu já estava sentindo.
Soltei um grito agudo seguido de um palavrão.
Eu nunca tinha sentido uma dor tão absurda assim na minha vida.
Inconscientemente eu puxei a faca para trás com força para rasgar mais. Cada segundo doía mais, cortava mais, sangrava mais.
Comecei a chorar mais intensamente, comecei a soluçar, era uma dor horrível.
Eu sentia uma grande miscelânea de sentimentos, incluindo arrependimento.
Tirei a faca e joguei no chão.
“Pelo menos não estava cega” - pensei.
Segurei o meu braço e olhei todo aquele sangue jorrando fartamente.
Pensei em como eu era corajoso fazendo aquilo. Bom, pelo menos toda essa merda intitulada de vida iria acabar.
Toda a minha dor iria sumir em pouco tempo, todas as minhas preocupações e problemas seriam jogados no ralo.
Como é estar morto? Acho que é tipo estar dormindo.
O que você sente no meio do sono? Absolutamente nada, você não pensa, você não se lembra.
Deitei no chão.
A minha capacidade de concentração começou a diminuir.
Quando me dei conta, a minha noção de tempo estava confusa.
A minha visão começou a escurecer.
Vi umas luzes, ouvi umas vozes.
O que é real? O que não é?
Percebi que um homem estava ao meu redor.
Quando ele chegou aqui?
Ele olhava com um olhar de desespero.
Não consegui entender muito bem o que ele estava dizendo, mas acho que era algo como: “Meu deus garoto, o que você fez???”.
Acho que ele tentou me arrastar, me pegar no colo.
Acho que ele tentou ligar para alguém.
Senti umas coisas muito estranhas por dentro.
Minha respiração ficou lenta.
Meu coração acelerado.
Até que eu cheguei em um ponto na descida do gráfico no qual eu perdi a consciência.
E então, eu finalmente morri.
A depressão me venceu.