Querido amigo Lima Júnior

Ainda estou em choque com a notícia, sabe? Sem saber o que fazer, o que dizer. Não pude nem ligar para sua esposa, que é uma das melhoras amigas que tenho. Acho melhor dar um tempo, respeitar o espaço dela. Todavia, posso prometer que não a deixarei sozinha. Olhe, não me leve a mal, mas sei que ela gosta de viajar, de tomar uma cerveja... Não fique enciumado. Quando passar essa fase inicial do luto, eu irei buscá-la para passar uns dias comigo, para viajarmos quando for possível, para conversarmos. Ela sempre reclamava da falta de amigos com os mesmos interesses, por música, literatura, filmes, séries, cultura em geral. Aline é uma moça muito inteligente! Por isso vocês se davam tão bem. Gostavam das mesmas coisas, eram amigos. Eu tive o prazer de ver isso de perto e de aproveitar bons momentos na companhia de vocês. Em sua memória, não vou deixar que ela fique acabrunhada dentro de um quarto. Vamos beber, viajar, fazer coisas que sei que você gostaria que ela fizesse.

Eu prefiro lembrar de você sorrindo, com um copo de cerveja na mão, falando mal dos alunos. O que esperar de três professores juntos? Não deixávamos de ser professores nem nos momentos de lazer. No nosso último porre, só você mesmo me acompanhou na cachaça serrana. Lembro que rimos muito, e também que riram de nós, porque estávamos visivelmente bêbados. Pena eu ter esquecido boa parte daquela noite, afinal, cachaça e memória não combinam muito. Mas lembro que você quase caiu quando pisou no rabo do gato lá de casa, por pouco você não levou um belo arranhão. Eu não disse isso a você, mas esse episódio virou piada lá em casa. Até hoje a mãe manga daquela cena. Aquele gato também nos deixou faz alguns dias. Cuidado para não encontrá-lo aí onde você está. É capaz de ele ainda estar zangado com aquele pisão.

Eu sempre comentava com a Aline que ela era uma mulher de sorte por ter você. Minha ideia de "gente boa" foi personificada na sua personalidade, no seu trato com as pessoas, no seu modo de encarar a vida e os problemas. Nunca o vi de cara amarrada, nem reclamando. Sempre "de boas", mente aberta, inteligente, bom de copo. Nesse quesito eu combinava mais com você do que sua esposa. Ela sabe beber com classe, enquanto nós dois enfiávamos o pé na jaca com gosto. Ainda bem que você casou com ela e não comigo, pois teríamos virado alcoólatras com certeza, rsrs. Paixão e Lobão versão 2.0. Barreirenses entenderão.

Num passado longínquo, na minha adolescência, tive uma paixonite por seu irmão, até bilhetes eu mandava rs. Já pensou? Quase entro na família! Soube depois que você é primo de segundo grau da minha filha, pelo lado paterno. Mundo pequeno, não? Desconfio de que quase todos do interior são um pouco parentes.

Obrigada pelas caronas, quando eu trabalhava no Danísio Corrêa, pelos almoços na sua casa, pela companhia agradável. Eu sinceramente acho que as coisas não acabam com a morte física, do corpo. Nossa consciência é um mistério. Espero que a gente se encontre novamente, em outras vidas, e que tenhamos o prazer de iniciar outra linda amizade. Neste momento em que escrevo estou triste, pesarosa. Não entendemos a morte, e ela ainda nos causa muita dor. Sei que ficaremos bem, assim como sei que é exatamente isso que você diria. Tristeza não combina com você.

Um abraço, meu querido! Cuide-se e zele por nós que ainda estamos aqui.