Carta ao meu grande amor
Meu grande amor,
pela primeira vez em minha vida, pude hoje entender Pessoa: eu tive um sonho como uma fotografia.
É verdade que não sonhei profundo como quem vê Cristo retornar à Terra, tornado outra vez menino a correr e a rolar pela erva, chapinhando nas poças d’água e fazendo da pedra o mundo.
Eu tive um sonho como uma fotografia tão bonito quanto sonhou Pessoa. Hoje eu sonhei com você. Você que, para mim, ainda não tem nome; que ainda não tem rosto. Você que eu ainda não conheço. Você que, algum dia, se tudo der certo, será o grande amor da minha vida.
No sonho, como quem salga a face por alívio, eu choro por ti de felicidade. Na sua frente. Eu olho nos teus olhos - ainda desconhecidos e, por isso, tão sem feição, até mesmo nos sonhos - e te agradeço por ter-me feito confiar outra vez; por ter-me dado a chance de conhecer o amor.
Meu grande amor, sei que ainda não te conheço, mas no meu sonho somos felizes. Você e eu. Você me olha sem entender e até acha graça no meu choro de alegria, mas respeita, como todo bom amor. Você não imagina tudo o que eu já passei - e nem precisa -, mas sorri, agradecida, como quem nina o filho só para dizer que vai ficar tudo bem. E vai.
Acho que estou aqui e agora, escrevendo este texto, que é pra quando te encontrar pela primeira vez eu não me esquecer de como é te amar. Estou aqui e agora que é pra te dizer que estou te esperando ansioso, meu amor. Desde hoje. Então, por favor, encarecidamente eu te peço - e talvez até suplico -, meu bem: vê se não demora a chegar.