Escrevendo à Saudade
Caríssima,
Acordei com a alma transbordando de lembranças. Minha infância foi o que primeiro relembrei, talvez porque seja a primeira fase da vida. Enfim... Tive saudade dos amigos, dos poucos brinquedos e das muitas brincadeiras que nos alegravam, nos fazendo sonhar.
Quis então escrever-te ao invés de matá-la como de costume. Escrever-te porque inegavelmente hoje meu coração é todo saudade, porque vivi momentos felizes e os eternizei na memória.
Lembrei-me das aventuras dos anos ainda na flor da juventude, quando costumava “brincar” de telefonemas e bilhetes anônimos com um certo belo rapaz da rua em frente à minha casa. Das poesias que escrevia na terra úmida da praça, sob o luar, tentando conquistar minha primeira paixão. Lembrei-me dos saudosos tempos de escola, da brincadeira de escrever mensagens em bilhetinhos aos amigos, mensagens que ainda guardo na velha pasta de recordações. E as aulas de literatura? Um sonho real!
Recordei ainda o paraíso onde meus amados pais moravam, o cheiro e o gostinho da comida da mamãe! As ferias maravilhosas que passávamos no interior, as brincadeiras com meus irmãos, a bagunça mais maravilhosa do universo!Alex, meu porco de estimação...
Ah, minha cara! Confesso-te a nostalgia de tantas lembranças. Mas, sobretudo, confesso-te o que intensamente vivi como o nascimento dos meus filhos. Seus sorrisos, seus olhos brilhando qual diamante, contagiando-me o coração, devolvendo-me a esperança. Uma feliz vivência da qual tantas boas lembranças restaram.
Muitos talvez achem isso tudo tedioso, mas quem de nós enterrou seu passado por completo aniquilando saudades?
És cara amiga o combustível para enfrentarmos o presente nem sempre feliz e o vivermos intensamente, para que não haja arrependimentos futuros.
Saudade!Sabes do que mais recordo e fico saudosa dentre todas as minhas lembranças? Do olhar afetuoso do meu querido pai. Olhos que um dia se fecharam para o mundo, mas que ainda permanecem brilhando para mim.
Sou-te imensamente grata por fazeres parte desta minha simplória vida.
Meu saudoso abraço,
Anne Monteiro