Carta para Dodó


Eu estava aqui pensando em você e imaginando o que poderia
escrever. Aí me lembrei daquela carinha de “desprezo” que você
faz quando não gosta de alguma coisa… e quando gosta também.
Tipo assim: tá ótimo, tá bom, não gostei, isso é ridículo! Essa
carinha é sua marca registrada, e sempre nos faz rir. Esperávamos

uma cara diferente para cada evento, mas vinha você e nos
surpreendia com a mesma cara.
Algumas vezes, eu estava contando uma piada e todo mundo
rachando de rir; você se limitava a dar aquela olhadinha por cima
do ombro. No fundo, eu sabia que você também estava rindo,
porém você tinha que fazer sua participação especial. Então, somando

tudo, você me deve umas 438.237.570 risadas. Tem como
me adiantar uma agora? A dívida está ficando muito alta e não
vou dependurar mais uma não.
Você é a nossa filha caçulinha, foi o último presente que eu
recebi como tio/pai e, pelo jeito, presente nesse nível não vai
pintar mais. Mas não fique muito convencida não. Sabe aquele
último ovo indez que todo mundo achava que estava choco? Pois
é, de repente, ele eclode e “aparece a margarida”. Duas bochechas
grandes e esse resto aí que veio colado nelas.
Dê jeito de se levantar dessa cama, sair desse hospital e olhar
para tudo que está acontecendo com a mesma carinha de desprezo.
Siga em frente, Dodó!
Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé.
Um beijo grande de seu tio eternamente cativo.


Kennedy Pimenta