Carta de um Coração Confortado
Caro Amigo,
Como uma chuva no sertão, suas palavras molharam um solo sedento de compreensão e solidão. Pela primeira vez, em TODA minha vida, tive alguém que entendesse um pouquinho de um sentimento amargo tão profundamente enraizado e que me desse um norte. Nos últimos anos, sentia que garras me puxavam cada vez mais para perto de um lugar perigoso. Tive medo de perder controle das minhas atitudes. Deixando “aquele” subconsciente me vencer. Tentei sair do meu canto escondido, procurando a solução.
Quando era pequeno, me enfurnava no quarto chorando as dores do mundo e querendo não mais viver, eu nem sabia o porquê. Quando cresci um pouquinho, entendi que tudo aquilo não eram pesadelos, mas memórias. Então, pedi ajuda da minha mãe e contei a ela. Mas eu era novo, não entendia que ela não podia me ajudar. Ela só sofreu e se sentiu culpada. Ela teve a ajuda de amigos. Eles disseram a ela que eu fizesse terapia. Em três meses larguei, disse a minha mãe que já estava melhor. Mas na verdade, não senti quase nenhuma diferença, e era muito caro para ela pagar. Meu pai nunca soube de nada, pois não me deu a devida atenção.
Aos trancos e barrancos, e graças à família e aos amigos, sobrevivi a uma adolescência conturbada e intensa emocionalmente. As palavras, os olhares e os sentimentos que as pessoas transmitiam eram todos muito mais intensos para mim do que para os outros. Enquanto para outros, nem fazia efeito, para mim, levava semanas e até meses para digerir e esquecer uma palavra mais árdua. Existia uma “vozinha” bem exigente, que me cobrava insistentemente a fazer as coisas perfeitamente, que me congelava e não deixava eu fazer as coisas por medo do perigo, de escolher errado, ter medo de perder as pessoas, de ser machucado, de não ser amado, uma voz que se repetia no meu subconsciente de que eu ficaria sozinho nessa vida. Me sentia o feio, sem dinheiro, sem conversa, sem pais importantes, sem ninguém que olhasse para mim, sem status, sem graça. Hoje vejo que era aquela voz que me colocava para baixo.
Quando conheci vocês, via como meu equilíbrio emocional era desestabilizado. Mas a convivência, a presença sua, o carinho, o exemplo no dia-a-dia, inclusive, os puxões de orelha e os “sacodes” fizeram eu dar um jeito de parar de chorar (escondido) por causa das suas palavras mais fortes e aguentar mais as emoções, e dar um jeito de me equilibrar. E então minha vida tomou outro rumo. Porque eu mudei. E por isso, sou eternamente grato. Porque a experiência de poder conviver com vocês me deu a oportunidade de mudar minha vida. Minha forma de ver o mundo. Presente que traça não come e que o tempo não corrói.
Apesar de ter conquistado algumas vitórias, me formado e bem casado, ainda sinto, não minto, às vezes, pensamentos do subconsciente que me puxam para baixo. Não são claros. Mas quando interpreto os pensamentos, é isso que o sentimento neles quer dizer. E o perigo daqueles pensamentos é o ciúme, o orgulho, a depressão, a inveja, a ilusão. Isso é o que mais me incomoda: as cicatrizes. Os pensamentos que são gerados pelas cicatrizes. Pensamentos que levam a um lugar sombrio. E que me dá medo de não saber me desvencilhar.
Há poucos dias, descobri que não estou sozinho. E o só do meu sofrer, bateu asas e voou. E felizmente, não me senti mais tão só. Ao mesmo tempo me deu uma dor sem explicação. Chorei a semana quase toda. Não gostaria que ninguém tivesse que passar pelo o que eu passei. Mais uma vez o passado e o presente se cruzaram. Descobri que tem alguém que pode de verdade me auxiliar. Alguém com experiência. Venho tentando compreender os desígnios de Deus. Me vi também a pessoa mais sortuda do mundo, de ter alguém para me ensinar como trilhar o caminho, e apesar de tudo, ser feliz, ser vitorioso. Então chorei de surpresa, tristeza e felicidade, tudo ao mesmo tempo.
Depois daquela conversa e da sua carta, aprendi a ver algumas das minhas reações e sentimentos turvos como influenciados pelo passado. Agora sei que posso me prevenir antes das reações acontecerem. Grato, mais uma vez, pelas palavras. Elas se tornaram um dos meus tesouros mais preciosos. Espero um dia conseguir chegar à luz do perdão e ser plenamente feliz. Vocês são meus anjos da guarda. Apesar de ainda não poder apagar tudo, já sinto o meu coração bem mais leve e uma paz nunca antes experenciada.
Como diz a música:
“Às vezes em certos momentos difíceis da vida,
Em que precisamos de alguém para ajudar na saída
A sua palavra de força, de fé e de carinho
Me dá a certeza de que eu nunca estive sozinho
Você, meu amigo de fé, meu irmão camarada
Sorriso e abraço festivo da minha chegada
Você que me diz a verdade com frases abertas
Amigo, você é o mais certo das horas incertas”
Amo vocês
(Carta de um grande amigo, em gratidão por algumas palavras de cura)
16 de dezembro de 2016, Lua Cheia.