Carta às crianças do meu Brasil
Natal-RN, 12 de outubro de 2019.
Carta às crianças do meu Brasil.
Queridas crianças,
Sei que a vida de vocês é cheia de incompreensões por parte de nós adultos, mas saibam que vocês são amadas por mim e por muitos amiguinhos meus que gostam de crianças de todos os jeitos. Eu gosto de todos os meninos e meninas do mundo, mas aquelas que têm jacarés no pensamento, dragões na barriga e elefantes no coração são as minhas preferidas. No meu tempo de criança levei a vida a brincar e estudar. A coisa que eu mais gostava de fazer era riscar as paredes da minha velha casa. A mamãe nunca reclamou comigo porque eu dizia para ela que quando crescesse queria ser artista. Não tive brinquedos caros. A minha bisavó costurava para mim bonecas de pano. Eu tinha uma pessoa que achava muito importante na minha vida de menina bem arrumadinha que era a minha costureira, aquela senhorinha de cabelos presos e óculos de graus que fazia belos vestidos para mim. Eu era a menina mais bela da rua, mas isso nunca tornou-me diferente das demais, pois com elas brincava de pular corda, passa anel, tôu no poço, cantigas de rodas, esconde-esconde e cadê o grilo.
Na minha rua sempre teve muitas crianças. Aliás, a minha rua só fica silenciosa quando as crianças vão dormir. Na minha infância quando faltava energia a gente corria atrás dos vaga-lumes ou ficávamos contando as estrelas. Eu aprendi a amar as estrelas desde pequenina. Sabem, crianças, eu também gostava bastante de gibis da Turma da Mônica e do Zé Carioca. Aos sete anos escrevi o meu primeiro poema e a mamãe ficou extremamente feliz com aqueles meus versos mal feitos. Eu nem sabia direito o que era rimar. A minha escola era pequenina e ficava perto de um mangue. Tive uma professora que me chamava de Rosinha porque eu cheirava a flores. Ela foi uma das pessoas que mais me amou nessa vida, nunca mais vi a professora Eliude. A gente cresce rápido, meninos e meninas, por isso aproveitem a infância de vocês para brincarem bastante, corram, pulem, se sujem de sorvete, suem e empinem pipas porque mais tarde essas coisas serão difíceis de serem feitas. Se eu pudesse voltar ao meu tempo de menina de laço de fita no cabelo e capinha de plástico amarela seria a pessoa mais feliz desse mundo!
Hoje é um dia muito especial, dia das crianças, um dia todo feito para vocês, então saiam de casa, larguem os aparelhos eletrônicos e vão brincar com os seus amiguinhos de verdade, vão jogar bola, biloca, trocar figurinhas, pular amarelinha ou passear no circo. Na minha vida de criança tinha um palhaço que era a alegria da meninada do bairro ele se chamava Faísca. O melhor palhaço do mundo morava perto da minha casa e ninguém sabia que ele era o melhor do mundo, só eu e ele sabíamos disso, porque a gente se amava. Ele sempre trazia pirulito para mim e quando eu estava triste contava algo que me fazia sorrir. O palhaço Faísca sabia como ninguém fazer uma criança feliz. Na minha velha casa tinha um cajueiro do tamanho do mundo que era o meu melhor amigo. A gente conversava muito, porém, um dia, os cupins o mataram. Os cupins destruíram tudo de bom que tinha na minha vida de criança: minha cama, o telhado da minha casa e o meu amado cajueiro. Eu não gosto de cupins, prefiro as lagartixas. Diziam que eu tinha coelhos no coração e eu achava bonito isso, nem sei por que achava bonito, mas hoje queria continuar com coelhos dentro do meu coração do que com as mágoas que vivem dentro dele. Quando a gente é criança ficar de mal é uma coisa triste, mas logo ficamos de bem e isso é tão lindo! Eu penso que os chefes de estado podiam ser iguais as crianças, ou seja, ficar de mal e tão logo ficar de bem evitando assim as guerras e os conflitos.
Na minha vida de criança as pessoas não respondiam as minhas perguntas e eu ficava cheia de dúvidas sobre a morte, a liberdade, quem era Deus, de onde eu vim, o que era a justiça... essas coisas que os adultos gostam de falar às crianças e não explicam. A minha maior perda na infância foi a morte do meu cachorrinho, pois eu era somente uma menina tímida que chupava o dedo e não entendia nada da morte. Ninguém nunca me falou que os animais também morriam. Até hoje trago muitas dúvidas dentro de mim. Apesar de tudo, fui uma criança feliz. Tive festa de aniversário com bolo e docinhos, presentes e uma família bonita. Na minha velha casa a gente tinha uma televisão preto e branco para assistir desenho animado. Havia coisas de crianças e coisas de adultos, não é como hoje. Eu gostei de ser criança... eu gosto de crianças... quem me dera que amanhã acordasse criança novamente... quem me dera. Feliz dia das crianças para vocês, meninos e meninas desse país enorme que vivem pelas ruas das grandes avenidas, que não têm o que comer, que dormem em calçadas frias e se alegram ao verem brinquedos eletrônicos nas vitrines das grandes lojas. Os adultos pensam que toda criança é feliz, mas não sabem das nossas dificuldades de entender o mundo e as pessoas ao nosso redor... um dia quem sabe as crianças sejam mais amadas pelos adultos. Eu acredito em contos de fadas, por isso termino aqui com o era uma vez...
Rosângela Trajano.
Natal-RN, 12 de outubro de 2019.
Carta às crianças do meu Brasil.
Queridas crianças,
Sei que a vida de vocês é cheia de incompreensões por parte de nós adultos, mas saibam que vocês são amadas por mim e por muitos amiguinhos meus que gostam de crianças de todos os jeitos. Eu gosto de todos os meninos e meninas do mundo, mas aquelas que têm jacarés no pensamento, dragões na barriga e elefantes no coração são as minhas preferidas. No meu tempo de criança levei a vida a brincar e estudar. A coisa que eu mais gostava de fazer era riscar as paredes da minha velha casa. A mamãe nunca reclamou comigo porque eu dizia para ela que quando crescesse queria ser artista. Não tive brinquedos caros. A minha bisavó costurava para mim bonecas de pano. Eu tinha uma pessoa que achava muito importante na minha vida de menina bem arrumadinha que era a minha costureira, aquela senhorinha de cabelos presos e óculos de graus que fazia belos vestidos para mim. Eu era a menina mais bela da rua, mas isso nunca tornou-me diferente das demais, pois com elas brincava de pular corda, passa anel, tôu no poço, cantigas de rodas, esconde-esconde e cadê o grilo.
Na minha rua sempre teve muitas crianças. Aliás, a minha rua só fica silenciosa quando as crianças vão dormir. Na minha infância quando faltava energia a gente corria atrás dos vaga-lumes ou ficávamos contando as estrelas. Eu aprendi a amar as estrelas desde pequenina. Sabem, crianças, eu também gostava bastante de gibis da Turma da Mônica e do Zé Carioca. Aos sete anos escrevi o meu primeiro poema e a mamãe ficou extremamente feliz com aqueles meus versos mal feitos. Eu nem sabia direito o que era rimar. A minha escola era pequenina e ficava perto de um mangue. Tive uma professora que me chamava de Rosinha porque eu cheirava a flores. Ela foi uma das pessoas que mais me amou nessa vida, nunca mais vi a professora Eliude. A gente cresce rápido, meninos e meninas, por isso aproveitem a infância de vocês para brincarem bastante, corram, pulem, se sujem de sorvete, suem e empinem pipas porque mais tarde essas coisas serão difíceis de serem feitas. Se eu pudesse voltar ao meu tempo de menina de laço de fita no cabelo e capinha de plástico amarela seria a pessoa mais feliz desse mundo!
Hoje é um dia muito especial, dia das crianças, um dia todo feito para vocês, então saiam de casa, larguem os aparelhos eletrônicos e vão brincar com os seus amiguinhos de verdade, vão jogar bola, biloca, trocar figurinhas, pular amarelinha ou passear no circo. Na minha vida de criança tinha um palhaço que era a alegria da meninada do bairro ele se chamava Faísca. O melhor palhaço do mundo morava perto da minha casa e ninguém sabia que ele era o melhor do mundo, só eu e ele sabíamos disso, porque a gente se amava. Ele sempre trazia pirulito para mim e quando eu estava triste contava algo que me fazia sorrir. O palhaço Faísca sabia como ninguém fazer uma criança feliz. Na minha velha casa tinha um cajueiro do tamanho do mundo que era o meu melhor amigo. A gente conversava muito, porém, um dia, os cupins o mataram. Os cupins destruíram tudo de bom que tinha na minha vida de criança: minha cama, o telhado da minha casa e o meu amado cajueiro. Eu não gosto de cupins, prefiro as lagartixas. Diziam que eu tinha coelhos no coração e eu achava bonito isso, nem sei por que achava bonito, mas hoje queria continuar com coelhos dentro do meu coração do que com as mágoas que vivem dentro dele. Quando a gente é criança ficar de mal é uma coisa triste, mas logo ficamos de bem e isso é tão lindo! Eu penso que os chefes de estado podiam ser iguais as crianças, ou seja, ficar de mal e tão logo ficar de bem evitando assim as guerras e os conflitos.
Na minha vida de criança as pessoas não respondiam as minhas perguntas e eu ficava cheia de dúvidas sobre a morte, a liberdade, quem era Deus, de onde eu vim, o que era a justiça... essas coisas que os adultos gostam de falar às crianças e não explicam. A minha maior perda na infância foi a morte do meu cachorrinho, pois eu era somente uma menina tímida que chupava o dedo e não entendia nada da morte. Ninguém nunca me falou que os animais também morriam. Até hoje trago muitas dúvidas dentro de mim. Apesar de tudo, fui uma criança feliz. Tive festa de aniversário com bolo e docinhos, presentes e uma família bonita. Na minha velha casa a gente tinha uma televisão preto e branco para assistir desenho animado. Havia coisas de crianças e coisas de adultos, não é como hoje. Eu gostei de ser criança... eu gosto de crianças... quem me dera que amanhã acordasse criança novamente... quem me dera. Feliz dia das crianças para vocês, meninos e meninas desse país enorme que vivem pelas ruas das grandes avenidas, que não têm o que comer, que dormem em calçadas frias e se alegram ao verem brinquedos eletrônicos nas vitrines das grandes lojas. Os adultos pensam que toda criança é feliz, mas não sabem das nossas dificuldades de entender o mundo e as pessoas ao nosso redor... um dia quem sabe as crianças sejam mais amadas pelos adultos. Eu acredito em contos de fadas, por isso termino aqui com o era uma vez...
Rosângela Trajano.