Dia 296
"Já parou pra pensar que talvez o nosso universo seja simulado?"
Em 2015 pela primeira vez uma pessoa estranha do Facebook me chamou pra dar rolê aleatoriamente e logo de cara eu percebi que ele era especial. Desde então meus roles não eram bons se você não estava junto.
Em outubro do ano passado, você deixou seu último recado se despedindo dizendo que não aguentava mais, e baseado nas nossas conversas, eu entendi que o universo simulado que a gente tanto falava sobre, não era bom o suficiente pra você.
Na última das últimas esperanças eu saí do meu trabalho (que estava há poucos meses efetivadas) sem rumo, atrás de alguma notícia sua, esperando te encontrar bêbado em algum bar por aí. Então nós recebemos a notícia de que você realmente tinha partido. Tinha deixado esse universo pra brincar mais um pouco em um universo melhor que esse.
Todo dia 21 de cada mês, se completa um mês desde que você deixou de brilhar aqui. E todo dia 21 eu me lembro com mais clareza do quanto éramos inocentes, em uma busca sem rumo por algum sentido pelo qual vale a pena viver.
Encontrei um deles nas suas memórias. No nosso curto romance adolescente regado a camel amarelo, catuaba, atitudes inconsequentes e claro, ao som clichê de bandas como 21 pilots, Alt-J, Rubel, the neighborhood... O típico romance adolescente de paulista que sai pra encher a cara no masp e acaba a noite virados na Roosevelt, tomando corote de pêssego.
Não sei se não tenho mais idade pra isso, ou se simplemente abandonei todos esses rolês pra não adicionar memórias novas nos locais em que nós nos encontrávamos.
O tempo passa e com ele a memória vai falhando, e a gente tenta recriar diálogos, cheiros, lembranças... Quase um ano depois, não me lembro de 60% das nossas conversas e as vezes entro na sua conversa pra escutar seus áudios e relembrar como era o seu tom de voz.
Prometi um dia não te deixar ser esquecido de maneira alguma, e por um tempo achei que isso só seria possível se eu continuasse te deixando mensagens no seu inbox e recados na sua caixa postal. Até que cancelaram seu número e me restou apenas teu inbox. Então percebi que me lamentar pela sua partida faz com que um pedaço de mim morra cada vez mais. Foi então que uma amiga me disse: "você já marcou ele pra sempre em você", e eu percebi que não havia te marcado apenas com a tatuagem, mas que você havia deixado uma marca em mim que ninguém poderia tirar: as suas lembranças.
Oh moreno do cabelo enroladinho, cada pedacinho teu ainda é lembrado não só por mim, mas por todos que te amam.