Pai...

Ouve-me:

Passou o tempo, foram-se anos sem que eu entendesse que tanto te magoei, não foi intencional; tivera eu mais milhões de anos para arrepender-me, não me perdoaria por ter sido tão cega.

Fui a luz dos teus olhos, o motivo de teus sorrisos, mas jamais poderia ter sido o motivo de teu voar sem alegrias. Quando não preparamos para magoar anjos, jamais nos vem à mente que o façamos assim, covardemente; também eu, envolvida no transtorno de meus erros ingênuos, porém assumidos, desfoquei das consequências e só vivi o evento da desventura.

Se consolar te posso, viverei eternamente consertando o caminho, a chegada, o desfecho daquilo que te fez refém da dor.

Pai, de todos os meus desventurados passos, só este culpo-me sem piedade, pois tu foste o meu modelo, meu suporte; não podia, não tinha siquer o direito de pensar em ferir-te; mas pago há anos por esta culpa, que nunca de mim cobraste; eu, sim, cobro-me cada minuto por tua ausência naquele momento que me poderia ser de grande felicidade, porém, encerrou um capítulo, que longe de ser o último, iniciou a razão de tantas e inúteis lágrimas.

Agora nada valem os lamentos, não tenho esta intenção, sacio em mim apenas um instante de desabafo, o qual não vês, mas posso sentir em minh'alma tua doce presença.

Hoje é "Dia dos Pais", mas tu não estás aqui, nem posso estar contigo, há um universo a separar-me de ti. Se te inclinares do alto de onde te encontras, sente meus olhos te pousando em insistente pedido de perdão, não por ti, que és grandemente meu guardador por entre

os céus, mas por mim, que continuo escrevendo tortuosamente meus descaminhos.

Continuo indo onde estás.