Que teu espírito se abra em luzes

Que teu espírito se abra em luzes:

Meu desejo é perseguir você dentro de um sonho. Você se tornou apenas um módulo tenaz dessa ânsia. Como posso traduzir o que sinto sem que você saiba, perceba ou seu instinto te traga aqui?

Como posso? Não sou poeta, mas me travam grades e fechaduras na minha vida de semi-luz, que me prendem, e depois me carregam, numa maré invisível, a um outro mundo, cujo nome tem suas iniciais.

Se nome está bem guardado, seu espírito me vagueia como luzes impolutas que esvoaçam ao céu à procura de hóspedes.

O que você anseia de bondades e lucidez me assusta. Nunca, na verdade, encontrei espírito assim: erguido de flores, num tempo de guerra, passível e assustadoramente bondosa.

Encontrei vários rasgos que se perderam no tempo ou que não fazem mais diferença na minha vida. De repente um sol longíquo com raios fogosos se lançam à manhã. É você.

Como posso descrevê-la se a sinto empertigado de desejos e ânsias mal curadas?

Eu disse, certa vez, que se alguém faz parte de alguma coisa, é quase impossível defini-la.Não se faz jus pensar. Há apenas de se rezar.

Assim é você.

Por isso, encontrei este bem escondido rascunho de sonhos para lhe louvar. Retribuir o que você faz ou o que você entrega a alguém é muito difícil de compreender em sua totalidade. É sua coligação com o etéreo. É sua parceria com o amor.

É sua espantosa gana de viver e dar um pouco do que é, do que sente, do que faz, do que sofre à um outro.

Se este sou eu, me encubro de gala, como num lago dourado rebatido por luzes da primavera, como pássaros rápidos, como flores que se espargem á toda volta de seu espírito.

A dor da carne a gente ainda suporta. Mas quando envolve dores de espírito, a margem de segurança se dissipa.

Não sei me conter diante de você. E jamais saberia magoá-la. Se estava considerado morto, me enchi de gala e meu espírito, de inspiração.

Igual a um jardim que por ele tenha perdido a esperança e, numa manhã, você descobre que há algo mais do que entulhos entre as flores órfãs.

E parte você para reconstruí-lo e faz de tal maneira que, numa magia e frescor, ele volta a florescer.

Mas o que digo ainda é pouco. Falta retribuir a você o que recebi. E só sei como fazê-lo, tentando escrever. Mas sou homem de poucas letras - que mal sabe descrever uma flor - tem a ousadia de lhe dirigir palavras contentes, alegres, sutis, ponderadas, justas. Mas, num certo ponto incoerente, meu espírito se embarga e as letras se embaralham.

E por saber fazer com humildes palavras, louvo aqui seu espírito radiante.

Não quero fazer parte de uma história sem fim. Não quero ser torto nem direito. Mas quero ser justo. E se alguém merece um milhão de palavras é você. Mas como entender o que se passa se estamos tão envolvidos nesta parábola de palavras, onde o tempo vira pavio curto?

E só posso retribuir assim: escondido atrás de palavras que a compensem, que não mais misturem dores e esperanças.

Conheci você no vago do dia e me deslumbrei com sua poderosa languidez de fazer bondade com palavras certas e apoiar os dizimados nos momentos mais fundos e cruéis em que sua alma possa mergulhar.

E quando a guerra interior começa lá está você; de guarda! Fui ferido e chamuscado pela dor de fogo e logo chega você oferecendo-me numa bandeja de ouro o seu espírito.

E se há algo a considerar de mais sagrado numa mulher é seu espírito - a música tênue que deixa escapar pelos olhos sob um arco-íris de luzes, lágrimas sem sentido.

Apenas lágrimas que você me poupa, me guarnece e me faz novamente sentir um guerreiro de arcos e armaduras douradas.

Por isso e repetido, essas palavras são para você, onde quer que você esteja. É o máximo que consegui dizer, ainda com o espírito conturbado e cheio de pérgulas inquisições.

Que você esteja bem. Meu reinado é de poucos castelos, mas sei que, num deles, você adormece sua alma majestosa, como a montanha que, de longe, habito.

E que tudo nasça todos os dias as 9h.
José Kappel
Enviado por José Kappel em 16/06/2019
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