Carta para Srta. Florbela e uma xícara de café fumegante
A minha cabeça só tem espaço para pensamentos ruins. Estou afundada nessa merda toda, e eu quem provoquei ao dizer sim. Lembrei que Joana D’arca se sacrificou e eu acreditei que eu pudesse salvar algo, mas nem fantasia de super-herói disfarçaria minha falta de habilidades.
O café esfriou na xícara.
Eu tento, por diversas vezes, dar sincronia ao Frankenstein que circula a minha mente, enquanto Passive de A Perfect Circle toca. Conheci essa música por indicação de uma querida amiga, que a dark web proporcionou. Então, pensei que talvez fosse possível dar materialidade ao John Constantine, e ele, portanto, pudesse me libertar dos meus demônios. Mas é tudo um talvez, probabilidades que nunca ocorrem.
Busco fazer da escrita uma cartase, tentando evitar a permanência de espíritos sugadores de energia. Buscando uma estratégia, levantei fiz café, voltei a porra da atenção para a tela do notebook, mas não consegui eliminar nada, estavam impregnados, fazendo parte de mim, quem sabe até me estruturando, e se eu os expulsar, como vou continuar? Vou cair feito um castelo de areia. De areia que o vento carrega.
O café esfriou na xícara, novamente.
Essa hemorragia literária se deu porque ela apareceu com um textão visceral, chamado Desabafo. E aí, eu me pergunto: Como é capaz de me conhecer mais a mim do que eu mesmo?
Não a coloco no pedestal, ela já estava lá quando apareceu para mim, eu apenas deixei habitar o seu merecido lugar. E, além disso, ela tem facilidades de escrever, de demonstrar com maestria o que circunda a sua admirável cabeça, enquanto eu, ah... eu preciso sangrar. Precisa doer. Uma sadomasoquista literária. “[...] ela precisa sangrar” e muito. O sangue precisa queimar e as palavras cortarem, deixando marcas pelo corpo, feito uma discípula de Camille Preaker. E dessa forma se comporta o frio aqui, machuca, dói irremediavelmente. Confesso ter saudades do litoral.
O café frio foi ralo abaixo, assim como a possibilidade dos demônios se afastarem.