Quando eu parti
 
Como uma folha que cai de uma árvore na madrugada, rodopiando leve sem plateia, eu foi embora.

Deixei o palco ainda repleto de talentos, como folhas reluzentes da ultima chuva, sacudidas pelo vento. Uma luz enigmática repetida em cada folha, um espetáculo para os que têm olhos e enxergam os mistérios da noite.

Eu rodopiei e cai, cai no colo de um amor não vivido, e suspirei suplicando por vida. Ele me carregou como a água de chuva carrega folhas secas e algumas folhas verdes arrancadas pela ventania.  Ele não suspirava como eu, ele não amava como eu, ele não sabia me conduzir numa dança frenética.

Ele era como um poema sem enlaces, ele não sabia ouvir um eco da própria voz, ele não percebeu o meu embaraço em laços, ele não desfez os nós, ele não me viu como um presente.

Meus olhos buscavam o dele, insistiam em ver a alma dele, queria eu invadir o espaço sagrado daquela vida e ser um elo eterno entre ele e avida.
Eu amei simplesmente eu amei, e sentia que a vida me envolvia ali, ali eu fiz laços de muitos sonhos com ele. Eu fui feliz em cada reencontro naquele olhar que me confessava amor, embora o corpo estivesse além das minhas mãos.

Hoje volto sem alardes, fico quieta no meu canto, canto meus versos como um sussurrar ao vento. Que o vento leve se assim quiser, o meu ultimo verso, verso que fiz ao voltar.
Não vou lamentar as perdas e nem ostentar meus ganhos, apenas estarei aqui, aqui vou costurar meus laços, não devo fitas e linhas a ninguém, os laços são meus.