Cartas de um Border 4

Ele odiava o frio. O fazia lembrar de um passado que ele preferia esquecer. Despertava a mais forte carência que ele sentira na vida. Vontade de se sentir abraçado, de receber cafuné, de ficar de conchinha. Coisas que ele sempre fez com seus amores, mas nunca recebeu. Pois é, como os afetos são injustos, né? Ele se perguntara se um dia, de fato, tivera sido amado por alguém. E se esse amor realmente aconteceu, ele se questionava porque nunca recebeu o carinho que disponibilizava ao outro. Ele era intenso, e sabia disso. Porém todos os teus amores foram distantes, e até meio egoístas. Era sempre ele quem abraçava, quem beijava, quem tomava iniciativa na relação. Se ele não abraçava, não era abraçado. Se ele não demonstrava afeto, a relação era sempre morna, quase fria. "Será que não sou bom o suficiente? Será que eu idealizo um amor que só existe nos meus pensamentos? Será que eu não mereço carícias e mimos da mesma forma que eu dou?", esses questionamentos geravam uma angústia muito grande em seu peito. Ele não sabia lidar mais com suas emoções. Eu acho que, na verdade, ele nunca soube. Mas agora ele admitia isso. Não esperava mais amor das pessoas. Talvez pelos inúmeros desafetos que passaram em sua vida. Talvez pelo fato dele não se sentir digno de ser amado. Talvez por causa das suas desilusões. Ele não sabia, não conseguia identificar. Apenas matava todos os sentimentos que brotavam em seu peito. Exceto um, por uma pessoa distante, que por mais que ele tentasse, não conseguia. Mas pra ele tudo bem, pois a pessoa estava distante, e esse amor era impossível de acontecer, ou não.