Só mais uma carta...

Minha querida,

Muito cuidado ao abrir este envelope. As palavras aqui escritas são como uma dinamite, não sei quem vai ferir mais: eu ou você. Eu sofri ao escrever. E você vai sofrer ao ler. Mas já tenha a ideia que o problema não é você. Sou eu. Não, não é um clichê.

As palavras que dirijo a você são cruéis. É um desabafo sincero de alguém que passou muito tempo guardando tudo para si. Antes tarde do que nunca. Estou escrevendo para colocar um ponto final naquilo que mal começou e já estava fardado ao fracasso.

De coração, obrigado por ter sido tão gentil e paciente comigo. Você se esforçou bastante para juntar os meus cacos e saciar os meus caprichos. Você foi incrível. Eu realmente não a mereço.

Obrigado por me fazer sorrir e ter me feito esquecer as minhas mágoas. Você não se assustou com o meu lado feio, pelo contrário, viu em mim algo que nem eu mesmo via mais. Você soube respeitar o meu espaço e aguentou as minhas criancices. Não me cobrou por carregar uma bagagem emocional que ocupava muito espaço. Eu não tenho do que reclamar. Só agradecer.

O seu único erro foi você ter se encantado por alguém como eu, que não merece quem você é. Hoje sou uma pessoa perdida, confesso. E seu erro foi tentar me resgatar. Minha querida, eu ainda não quero ser resgatado. Preciso viver um tempo só para mim. A culpa não é sua. Nunca foi e nunca será. Você não tem culpa. Eu passei por muitas decepções. Acho que quebrei a cara tantas vezes, que quebrou algo muito precioso em mim. Busquei em amores errados a pessoa certa. Só que quando ela apareceu, acho que me tornei a errada. Aí o clichê do início da carta se aplica. Eu não a mereço. Não agora.

Me parte o coração ver você se esforçando tanto para dar certo e essa intensidade não ser recíproca. Não consigo retribuir. Desculpa. Sei que é horrível eu dizer que quero continuar sendo seu amigo, mas, com certeza, não é uma boa ideia. É horrível, mas agora eu não consigo ser a pessoa que você quer (e precisa) que eu seja. Talvez eu me arrependa (muito provavelmente) por estar dizendo essas coisas para você. Talvez a gente se encontra mais para frente. Eu de coração cicatrizado e menos traumas, e você com menos sede de amor (não a julgo, eu também era assim, antes das minhas cicatrizes). É bobagem pensar assim. Eu não tenho o direito de pedir que você espere eu deixar de ser uma peça perdida do seu quebra-cabeça. Você deve viver. Guarde esse amor que eu não consigo entender agora para alguém que esteja pronto a recebê-lo.

Realmente, me desculpe. Eu sinto muito por ser sincero. Mas eu não posso enganar você. É melhor doer agora. Sei que você deve estar com raiva. Pode ser que não me perdoe. Terei que conviver com isso. O que me consola é saber que fui sincero com você. Não consigo fazer o meu coração mudar de rumo. A única porta que consegui abrir para você foi a porta do meu carro.

Espero que um dia me entenda.

Com amor,

A.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 07/05/2019
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