CAMINHOS PARALELOS

Caminhos paralelos.

Agora, sentada,

ouvindo apenas o ruído do silêncio,

parada,

eu penso em nós.

Vem vindo do fundo, gritante,

alarmante,

a ansiedade do tempo passado

preenchendo do nada

o vazio de dois mundos.

Somos duas pontas de flechas,

disparadas do infinito,

que não se encontrarão.

Um grito de alarme

cresce na garganta

e espanta

no vôo, a felicidade

que em vão tenta o pouso

em minha alma angustiada.

Somos dois que

marcham ao longo,

sem cruzamentos,

nem encontros.

Tontos,

procuramos nos dar as mãos

através o nevoeiro do tempo.

Ilusão temerária de sermos um,

quando seremos, eternamente

dois.

Pois,

não percebes?

Teu mundo é formado

de outras cores.

Consulto o silêncio,

tal fora o relógio da vida,

e vejo nos ponteiros

que não se tocam

nossa própria tentativa

do ser uno.

Nessa ilusão míope não vemos

que passamos

um pelo outro,

sem nos tocarmos,

como os ponteiros

que marcam a vida,

perdida.

Natal, 06/02/2015

Maria Tecina

Maria Tecina
Enviado por Maria Tecina em 06/02/2019
Reeditado em 24/02/2019
Código do texto: T6568263
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