GRAVIDEZ INESPERADA

De repente fui percebendo a sensibilidade aflorando em mim de uma outra forma. De início tão inusitada e negativa, me senti profundamente amaldiçoada por estar grávida. Logo eu, que nunca quis filhos na minha vida em nenhuma circunstância. Senti como se fosse um castigo de Deus, pois recebi a notícia no “choque”. Me senti arrependida. Até pensei por diversas vezes em acabar com minha vida e a do bebê. Tentei, não foi por falta de tentar. Mas por algum motivo nenhuma das tentativas deu certo.

Comecei desde que soube, a passar muito mal em todos os sentidos. Senti muitas dores, minha gastrite nervosa atacou de uma forma que comer uma simples uva se tornou um sacrifício enorme. Chorava infinitamente perguntando o porquê daquilo estar acontecendo logo comigo. Surtei, saí de casa e passei a noite fora. Não conseguia dormir.

Terminei com o pai da criança no impulso, estando muito triste e frustrada pela situação. Queria que tudo fosse apenas um pesadelo.

Fui no médico, rejeitei os medicamentos necessários para manter minha saúde na gravidez, e comecei a me sentir cada dia pior. Mal havia me curado completamente de uma anemia recente... Os dias foram ficando longos e difíceis

[...]

Ok, não recebo um apoio do pai, isso é real. Enquanto ele quer um tempo pra “absorver tudo” e ficar livre da situação eu não tenho alternativa enquanto tenho que absorver e já me adaptar nessa rotina, sem escolha de me livrar de nada. Nem das dores, enjoos, medos, e pagamentos.

Enquanto ele diz beber todos os dias, nem isso posso porque se não eu que sou irresponsável. Fui me sentindo profundamente irritada, magoada, e principalmente desamparada.

Quando o bebê nascer, o explicarei claramente tudo o que houve sobre essa trajetória de aceitação.

E então, preciso ter cabeça(e bolso) pra consultas, pra dores, pra omitir da família por enquanto a situação.

Minha mãe por diversas vezes me diz “isso está muito estranho”.

Sinto aquele caroço na garganta, como se omitir fosse pior.

E então, perante o meu maior surto quando quis me matar tomando medicamentos, resolvi tomar um banho de sal grosso para equilibrar um pouco os meus sentimentos tão bagunçados e aguçados.

Tomei e deitei por diversos minutos. Mentalizava com a força que podia que eu tivesse clareza de pensamentos para aceitar e entender da forma que tinha que ser o que estava acontecendo. Que eu sabia que aquele surto inconsequente que nem eu me reconhecia mais estava me afetando, me machucando, e me fazendo ficar pior do que eu já estava.

Já não conseguia mais ter psicológico e consciência tranquila com o fato de colocar minha vida em risco para tentar interromper uma vida além da minha. Me sentia internamente agredida pela situação.

[...] Por fim, “aceitei” não aceitando no fundo. Em outras palavras, engoli a realidade e o fato. O pai..?! Rs

Ultimamente se finge de morto com a situação. Assim que me sinto quando falo algo à respeito. Finge que nem e com ele.

Se eu pudesse voltar atrás, juro que jamais permitiria que ultrapassassem meus limites sobre o que fazer ou não numa transa.

Entrei em um processo constante de aceitação do fato. Não há o que fazer.

Só me sinto exausta por estar bancando tudo sozinha, inclusive emoções e dores.

Não esquecerei do fato de ter sido desamparada no momento mais sensível da minha vida.

Tamiris Sindice
Enviado por Tamiris Sindice em 16/11/2018
Reeditado em 08/02/2019
Código do texto: T6504418
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