Querido Mundo, salve-se, salve-nos.

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Temos sido filhos da escuridão.Consumimos-nos pela ignorância, transpassamos uns aos outros pela moeda e pelo pão. Pisamos na sabedoria sob mando da ganância. Nos deixando ser guiados pela escuridão da maldade e pela soberba da luta pelo poder.

Valorizando os corpos e as formas, produzimos e vestimos máscaras sociais para os distantes, enquanto mostramos nossas falácias para os próximos. Estamos esquecendo da vida e deixando de sermos amantes do presente em busca de um futuro, um ideal metamórfico inalcançável, insaciável, uma espécie de areia movediça que consome nossos anos, nossas força, nossa vitalidade e nossos vínculos.

Todos os dias caminhamos por esta selva de pedras, mas uma selva onde só habita uma só espécie e que por incrível que pareça, em um ato suicida e impensável destrói a si mesmo dia após dia. Um suicídio coletivo, que entra por nossas bocas, olhos, ouvidos e genitálias. Somos depósitos móveis falando hipocrisias e cantando belas canções, nos enganamos na desculpa de estar fazendo nossa parte. Somos animais selvagens inadestráveis, ignorando o irmão que clama por piedade.

Uns comem caviar enquanto outros sobrevivem com a lavagem das cidades, mas ambos se esquecem que nutrientes são os mesmos. Uns esquentam-se em lareiras, outros poem fogo em latões de lixo, mas ambos esquecem que o calor é o meso.

Por que é que os mais velhos, sofridos e experientes de uma labuta longitudinal têm que servir os mais novos, desconhecedores dos valores e dos processos?

Se hoje podemos escolher, por que precisamos coagir? Porque diabos veríamos mas nos negaríamos a enxergar? Ouvimos mas não escutamos, sentimos mas ignoramos. Isso é normal?

A você que lê esta carta, Mundo, eu só te peço uma coisa: por favor, ouça mais, veja mais, questione mais, sinta mais.

Tudo mudaria com o exercício de apenas três palavras: escuta, compreensão e empatia.

O motivo que me levou a escrever esta carta é estar cansado de ver as pessoas querendo serem maior uma do que as outras, de querer sentir o falso e momentâneo orgasmo do "eu venci". Estou regurgitando, neste momento, todos os padrões de beleza, de consumo, de comportamento e de vida, mas ainda posso ver pessoas dançando e rolando neste vômito capitalista. Sim, estou revoltado, mas é uma revolta sadia, aquela que expurga, extirpa, arranca, decepa a maldita raiz do mal do século. Não sou epenas dinheiro, produto, sexo e subordinação. Sou gente, sou humano, sou vivo. Eu sinto, eu vejo, eu percebo. Eu amo, eu odeio.

Agora deixe-me ir. Estou cansado demais para continuar. Mas antes de ir deixo mais um recado: um dia você também se cansará e verá que tudo isso que eu disse você também reproduz com alguém. Lembre-se que o pior cego é aquele que não quer enxergar o que está diante de seus olhos.

Onde está Deus neste momento?

No mesmo lugar de sempre...

Ele só parece estar em silêncio (silêncio não é sinônimo de inatividade).

Ele apenas nos deu o tão sonhado livre arbítrio e veja o que fazemos com ele.

Assinado: Alguns bilhões de pessoas.