CARTA À JOVIALIDADE VIRTUAL
Não há mistério nenhum, como diz o povão: é só publicares e fazeres a leitura dos textos, sem a necessidade de insistir no sentido de que sejas lido. No meu caso, a cada leitura oferecida, procurarei ver e examinar com tempo e no momento em isto for possível, aquilo que o visitante postou em sua página. Acaso o texto me agrade, deixarei comentário específico sobre o mesmo. No entanto, se o produto textual chamar a atenção pela temática e/ou pela estética bem apresentada de seus versos e/ou textos prosaicos, procurarei observar se o escriba está pronto para receber a análise crítica pontual. Em verdade, dificilmente o neófito (aquele das garatujas ou rabiscos que se pretendam literários) está preparado para receber análises que não lhe sejam favoráveis ou elogiosas. O iniciante sempre acha que a cada vez que torna público um texto, acaba de publicar a sua mais recente obra-prima. Ledo engano! Entendes como eu procuro atuar em relação aos novos no Recanto das Letras, cujo link é www.recantodasletras.com.br, um saite aberto que pretende reunir escritores através do ato de recolha de sua produção? Este bem urdido repositório de Letras e Artes é, na atualidade, o maior portal de lusografia e de lusofonia brasílicas de que se tem notícia através do suporte internético, na Grande Rede. Bem-vindo aos territórios da Poética, especialmente. Neste, não há possibilidades resolutivas. É este o universo da eterna dúvida, porque a Poesia não se destina a dar respostas, e sim a ampliar os questionamentos e propor intensa reflexão sobre os temas em voga. Trata de fazer (elabora-o criteriosamente) um bom e sincero “Perfil do escritor” referente ao vivente que ora se cadastra. Ele é o documento de apresentação ao “universo dos magos”, e funcionará como convite tácito ao teu leitor. Dependerão de sua redação a amplitude e fortaleza do convite que se espargirá de modo a instigar o leitor para que conheça a tua obra. O Perfil é um documento direto, uma apresentação que tem como objetivo o de “quebrar o gelo” e provocar o eventual leitor (cadastrado no site ou não) a chegar ao texto autoral. Há muitos inscritos que se confundem e urdem a criação do predito “perfil” como fora mais um texto pretensamente literário e ficam a compor versos ou formosas e escolhidas palavras – por vezes até confusas e/ou desconexas – para um leitor (pode ser até um editor à busca de novos talentos) que, em verdade, deseja apenas saber quem é o autor, a sua naturalidade, quantos anos tem, onde reside, sua profissão atual e formação profissional (se a possuir), qual a sua escolaridade, qual o seu pontual universo real e o de suas leituras e, enfim, o que pretende no mundo literário e/ou de que modo pretende se inserir nele. Talvez até aquilo que o move a este penetrar no amplo universo sócio-psíquico do humano ser. Muitas vezes, seja lá por motivo de insegurança psíquica ou quaisquer outros, o autor sequer revela o seu nome, optando por um pseudônimo naturalista, lírico ou satírico. O que já dá ao analista literário a dimensão do despreparo para receber a análise crítica sobre o seu texto. Quem escreve se expõe. O autor, seja em que idade, tem de saber que está, naquele momento, adentrando a um universo estrito de personalizações variegadas, individuadas, para, em muitas situações, receber o vômito e, excepcionalmente, a alegria dos parceiros de um novo nicho de confidências assentadas nos desejos de vir a ser, na falsidade peculiar à farsa, à fantasia para recriar a vida e construir o sonho, que, como tal, é quase sempre utópico. Afinal, escrever não é uma troca de roupagens ocorridas no lugar comum da vida? Lembra-te de que o poema é a materialidade do gênero POESIA, e de que o poema é matéria morta sem o olhar do leitor. E que esta materialização somente passa a viver, ou seja, adquire vida não pelo teu querer, e sim pelo bafejo estético do ocasional leitor, que, as mais das vezes, tu nunca saberás quem é, mas é este mesmo agente promotor que te pode (ou não) consagrar, num futuro mediato. Nos escaninhos da memória, o que vale é o que fica como registro de prazer ou resiliência. Lembra-te que do Nada nasce o Nada. O que escreves é o que sobrou em ti das reiteradas leituras. Sem o ato-fato de comer, não há como excretar. Porque Poesia é pra comer. O seu produto final não muda a vida num átimo, mas pode inocular no humano ser o gene das mudanças, que ele poderá (ou não), realizá-las, mesmo que, em regra, a duras penas...
– Do livro OFICINA DO VERSO – O Exercício do Sentir Poético, vol. 02, 2015/18.
https://www.recantodasletras.com.br/cartas/6245121