Meu pai e as 29 cartas de dezembro. Dia 11 de dezembro.

Olá pai, bom dia, meu herói.

Sabe, dizem que para superar o luto é preciso passar etapas, bem, como meu luto é bem recente, algumas vezes pesa mais, não quero fazer do senhor lembrança ou pensar que sou forte para superar sozinho, eu preciso conversar com o senhor e desta maneira, começar a entender esta fase.

Bem, o senhor, teve que passar pela intervenção cirúrgica, mas, não foi tão fácil.

Quero destacar que minha mãe, sua esposa, nunca, nenhum só dia lhe deixou só, isto é fato, para mim, ela adoeceu ao seu lado e agora que está buscando forças para se refazer.

O senhor foi transferido para uma uti especial, nessa uti, ficávamos nós, naquela uti, ficam sendo explorados os últimos recursos e mais delicado, o apoio e presença da família, até para se utilizar de una despedida.

Deixaram o senhor em dieta zero para se submeter ao processo cirúrgico, isso, por três vezes e sempre havia algum imprevisto, não consegui controlar meu ímpeto e fui questionar, claro, com formalidades e bastante educação, falei em sua defesa no posto de enfermagem:

Quem é o responsável pelo paciente Jonas? O fato é que ele tem 71 anos, se encontra debilitado e necessita da intervenção cirúrgica e não saiu o parecer cardiologico, enquanto, o médico responsável, informa, seu WhatsApp para minha irmã, dando a nítida impressão de um assédio, meu pai fica a mercê da boa vontade. Este é um hospital de referência, caríssimo, se algo acontecer ,ao meu pai, não seria muito bom, uma repercussao pública negativa, com o envolvimento da imprensa, responsabilizando o hospital por crime de omissão.

Foi ai, que minha mãe se chateou comigo e retrucou-me até desfazendo minhas palavras junto aqueles profissionais, mas, minha atitude, surgiu efeito e no dia seguinte (30.11.16) o senhor fez a cirurgia e correu como esperado, mas, ao anoitecer, lhe fiz uma visita e o senhor estava entubado, desacordado, sedado e tomando bolsa de sangue, aquela imagem me marcou demais, segurei sua mão e chorei, pedi a Deus que cumprisse o seu plano e não o nosso desejo.

Neste dia em especial pai, voltei para casa, chorando o caminho inteiro e para completar no ônibus que peguei para chegar em casa, tocavam músicas que o senhor sempre gostou, esse dia jamais será esquecido.

Te amo cada dia mais, pai e após as cartas, lhe deixarei vivo em minha memória e coração, mas te deixarei descansar.