O dia mais triste da minha vida

Embora ainda hoje eu tenho escrito que a vida foi melhor comigo do que eu merecia, por uma situação alheia a minha vontade, acabei me lembrando do dia mais triste da minha vida, 11/02/2017, quando a minha prima se casou.

Deus realmente foi bom demais comigo, dando-me, não um, mas dois pais. Um para servir de exemplo de retidão, caráter, sucesso profissional e mesmo sendo um senhor extremamente difícil de lidar, era justo, gentil, amável, perceptivo, solidário. Não por menos, esse senhor é o meu herói e o meu objetivo de vida é orgulhá-lo e honrá-lo, onde quer que ele esteja, mas esses sentimentos juntos, são difíceis de lidar, pois eu sei que mesmo em meus melhores dias, chegar aos pés dele é uma missão quase que impossível.

O outro pai era alguém igualmente especial, entretanto tomou más decisões e entregou-se ao álcool e as drogas, tornando-se também um exemplo de decisões que não devo tomar e do que não devo ser, mas mesmo assim embora possa parecer controverso, era uma pessoa maravilhosa, era sincero, atencioso, por isso eu o amava mais do que a língua portuguesa poderia me ajudar a fazer-me compreender.

Minha prima me convidou ao seu casamento e mesmo ciente de que eu certamente não teria condições para suportar tal avalanche de emoções, eu quis ir, pois quando uma pessoa me dá gentileza, eu tento retribuir na mesma moeda.

Na hora da escolha da data, no meu entender, faltou um pouco de sensibilidade, pois praticamente um ano antes, meu pai tinha falecido.

Mesmo tendo passado praticamente duas semanas só chorando imaginando como seria o reencontro com toda a família, eu decidi ir. Minha mãe ao me relatar que quando eu era bebê minhas primas brincavam comigo como se fosse um boneco, não imaginava, mas as suas palavras foram fundamentais para que eu decidisse ir ao casamento, pois eu nunca me senti amado e acolhido pela família, mas aquelas palavras, amoleceram o meu coração.

Imaginando não suportar tantas dores, eu decidi que precisava levar alguém que fosse capaz de dividir as dores comigo, minha tia Elizabeth foi a escolhida.

Escolhi meu lugar na igreja e no banco de trás tinha um senhor explicando para outros a história da família, mencionando os irmãos do meu avô. Um dos irmãos chamava-se Clóvis, o mesmo nome do meu pai e ao ouvir aquele nome, eu quis ajoelhar e pedir a Deus que me ajudasse a manter as minhas dores silenciosas, pois eu sou um homem forte e orgulhoso e não queria que ninguém soubesse a imensidão da tristeza que eu sinto.

Passados poucos minutos, algumas músicas tocando, fato que aflora sentimentos em mim, eu desabei e comecei a chorar compulsivamente, parece que todo o sofrimento que me assolou por 26 anos, resolveu manifestar-se em um único momento e naquele momento eu fui incapaz de me conter.

Ver todos os familiares do meu pai, fato que só aconteceu em velórios e casamentos, deixando claro a ausência dos que para mim seriam os mais importantes, sobretudo o fato dos que se ali estivessem, estariam sentados no mesmo banco comigo, me dizendo o quanto me amavam, não estarem presentes, foi o mais próximo da morte que eu vou sentir durante a minha vida.

Sentir isso tão novo? Eu não tenho estrutura para tal.

Ficou muito evidente que meu pai e meu avô estavam faltando e eu não consegui conter a minha emoção (frustração) nessa data.

Meu Deus, por que eu tenho que passar por tais provações?

Justo eu que sou tão orgulhoso, me senti humilhado de chorar tanto e perceber que as pessoas estavam vendo e comentando sobre o fato.

Saí da igreja, antes de a noiva entrar, liguei pra minha vó e mãe e expliquei o ocorrido, mas ambas foram incapazes de entender. Comprei água e fiquei tomando do lado de fora da igreja, fui embora após acabar o casamento e tomei alguns copos de uísque. Resolvi que iria a festa de casamento após um tempo hábil para me recompor.

Chegando lá o primeiro senhor que me cumprimentou, veio relatar ser padrinho do meu pai e começou a falar dele e não percebeu minhas tentativas de desconversar, meu olho se encheu de lágrimas e eu pedi por favor para ele parar de falar do meu pai, pois o mesmo tinha me destruído e me feito ir embora da igreja. Olhando pro lado, percebi que meu tio encheu os olhos de lágrimas e percebeu que o que me afligia era a ausência do meu pai.

Nunca mais quero me sentir assim, é desesperador e torturante.

Gui Machado
Enviado por Gui Machado em 09/09/2017
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